Boquerón (Paraguai) - “Viva Brasil, Viva Paraguai!”, proclama a prefeita do distrito paraguaio Carmelo Peralta, na fronteira com Porto Murtinho, Mirna Oreo, ao saudar a caravana brasileira formada por 28 caminhonetes Amarok que percorrerá três mil quilômetros de estradas até Antofagasta, na costa do Pacífico, para apresentar às autoridades sul-americanas a viabilidade da rota para integração comercial entre Brasil, Argentina, Paraguai e Chile.
O entusiasmo da intendente paraguaia pelo esforço dos governos brasileiro e do seu país para viabilizar o caminho considerado estratégico para unir os quatro países e reduzir custos nas exportações, sintetizou o clima de otimismo que reina na região com a garantia de que o projeto sairá do papel e estará pronto em no máximo quatro anos. “Estaremos unidos para todos, Brasil e Paraguai”, disse Mirna Oreo.
Depois de tentativas do governo brasileiro e das propostas defendidas por Mato Grosso do Sul para criar alternativas de reduzir distâncias para os produtos via Pacífico via Bolívia, país que não proporciona confiabilidade em seus acordos, a entrada para o oceano por Porto Murtinho ganhou unanimidade. O Brasil assinou embaixo e Mato Grosso do Sul ganhou apoio político não acenado em 20 anos de discussão da rota bioceânica.
De concreto, até o momento, está o compromisso firmado pelo governo brasileiro de construir a ponte sobre o Rio Paraguai, entre Murtinho e Peralta, enquanto o Paraguai se compromete a pavimentar cerca de 470 quilômetros da rodovia que corta o Chaco até a fronteira com a Argentina. Desta fronteira até os portos do Chile, o caminho está pavimentado desde 2014 para receber os produtos de Mato Grosso do Sul e outros estados do Centro-Oeste.
A ponte, segundo o ministro João Carlos Parkinson, das Relações Exteriores, está nos planos do governo e sua construção depende de aprovação de empréstimo internacional pelo Congresso Nacional, provavelmente via Fontapla, o fundo de desenvolvimento dos países platinos.
Para atestar o acordo do presidente Michel Temer com o Paraguai, Parkinson integra a comitiva de empresários, lideranças políticas brasileiras e paraguias e secretários estaduais do Governo de Estado que segue o caminho ao Pacífico até o dia 2 de setembro. O diplomata foi saudado com grande entusiasmo na fronteira Brasil-Paraguai.
As caminhonetes que farão a segunda etapa da Rota da Integração Sul-Americana (Rila), idealizada pelo Sindicato das Empresas de Cargas e Logística de MS (Setlog), saíram de manhã desta sexta-feira de Campo Grande com destino a Porto Murtinho. Pouco antes da chegada à fronteira, o governador Reinaldo Azambuja se reuniu com autoridades paraguaias em Murtinho para selar acordos bilaterais.
No encontro, ficou patente a certeza de que a rota se viabilizará pelos compromissos do Brasil, em relação à ponte sobre o Rio Paraguai, e o aceno do Paraguai em abrir licitações para asfaltar o trecho da rodovia até a fronteira com a Argentina. “Não tenho mais dúvidas de que vamos viabilizar esta rota e trazer o desenvolvimento a toda a região, economizando mais de 8 mil quilômetros para chegarmos ao Pacífico”, disse Reinaldo.
Os paraguaios, dentre elas os governadores de Boquerón, Edwin Pauls, e de Alto Paraguai, Marlene Ocampos, e o presidente da Cooperativa Chortitzer, Gustan Sawtsky, foram enfáticas em afirmar que o Paraguai cumprirá a sua parte e todos em seu país projetam um crescimento extraordinário do agronegócio, em especial no setor de carne bovina. “Todos ganharão, inclusive o turismo, a cultura”, pontuou Edwin Pauls.
Depois da recepção à caravana da Setlong, pelas autoridades sul-mato-grossenses e paraguaias, na Praça de Eventos de Porto Murtinho, os caminhonetes atravessaram o Rio Paraguai de balsa para Carmelo Peralta, enquanto os integrantes do Rila seguiram de navios, por cerca de seis quilômetros rio acima.
Na comunidade paraguaia, uma grande concentração pública para receber os visitantes. Integrando a expedição, o secretário estadual de Infraestrutura, Marcelo Miglioli, saudado por faixas estendidas na principal avenida de Peralta, disse não ter mais nenhuma dúvida de que a rota por Porto Murtinho será um realidade. “Já passamos do sonho e desejo sucesso a nossa empreitada”, falou.
A comitiva saiu de Carmelo Peralta no entardecer, às 18h, com pelo menos duas horas de atraso. A noite chegou rápido na travessia do Chaco, exigindo muito cuidado dos motoristas das caminhonetes em uma estrada de terra em boas condições, mas com muita poeira, navegando a 50 km/h em média. O pó fino que impedia a visibilidade dava a impressão de uma tempestade de areia no deserto.
Em todo o trajeto até Boqueron, a polícia paraguaia deu apoio, liberando inclusive entraves nos postos de fiscalização. O grupo chegou a esta comunidade de pouco mais de oito mil habitantes à 23h20, acomodando-se em hotéis. A agenda deste sábado começa às 7h, com o café da manhã, e logo depois haverá uma visita à Cooperativa Chortitzer, referência na produção de carne e leite na região sustentadas pela colônia menonita.
O próximo destino será Pozo Hondo, já em território argentino, com previsão de chegada às 13h. Serão mais 215 quilômetros de estrada de terra. Veja mais fotos.
Texto e fotos: Silvio Andrade - Subsecretaria de Comunicação (Subcom)