Campo Grande (MS) - A rota da integração para o Pacífico, que se desenha a partir de Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, deixou de ser um projeto específico do Estado para tornar uma alternativa para o Brasil Central, onde Goiás e Mato Grosso também pretendem usar o novo caminho rodoviário para chegar com seus produtos na costa chilena. O que aumenta a responsabilidade do governo brasileiro na construção da ponte binacional no rio Paraguai.
Mas não é um caminho para os grãos, que demandam maior volume de cargas nos abarrotados portos de Paranaguá e Santos, em razão dos limites de tonelagem nas Cordilheiras dos Andes, onde os caminhões bitrens não sobem a estrada íngreme e sinuosa com destino aos portos de Iquiqui e Antofagasta. Os bitrens extrapolam, além do mais, o limite de peso permitido nas estradas da Argentina e Chile – 25 toneladas contra 45 toneladas no Brasil.
Este fator limitante, no entanto, não tira o entusiasmo do empresário sul-mato-grossense em exportar com menor tempo e menos custo cruzando uma rodovia de quase 2,5 mil quilômetros, de Campo Grande ao Pacífico, atravessando Paraguai, Argentina e Chile. A rota reduzirá em oito mil quilômetros o passeio que a carga faz pelo Atlântico, a partir dos portos do Sul e de Santos. Será um novo mercado aberto a produtos industrializados e manufaturados.
Incremento nas exportações
Depois de sucessivas tentativas de ligar os dois oceanos pela Bolívia, onde a estrada estreita nas cordilheiras não permite a passagem de caminhões de três eixos e capacidade para 27 toneladas, os governos federal e estadual e os empresários estão convictos da saída por Porto Murtinho como a melhor alternativa para consolidar um comércio com os três países e ganhar competitividade nos mercados asiáticos com a redução dos custos de transporte.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de MS (Setlog), Cláudio Cavol, estima que com a rota da integração projetada a partir de Porto Murtinho, haverá um incremento de cargas no trecho em torno de 10% ao ano. Hoje, a movimentação de mercadorias na região se limita a abastecer cidades fronteiriças paraguaias e bolivianas vizinhas a Ponta Porã e Corumbá. Não é um mercado hoje atrativo por falta de logística.
“A participação das nossas fronteiras nas exportações é ínfima, não chega a 2%”, diz Cavol. Segundo ele, o segmento de transportes de cargas por rodovias é responsável pela movimentação de 25 milhões de toneladas anualmente, com destinos aos portos do Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina. “Vamos ter que nos adaptar a nova rota com caminhões de três eixos, pleiteando cargas de até 30 toneladas a Argentina e ao Chile.”
Conexões com ferrovia e hidrovia
O dirigente do Setlog não enxerga dificuldades para definir uma nova balança nestes países, que estão interessados em ampliar a legislação para também operar com os caminhões de três eixos, e vislumbra um mercado promissor inclusive para retorno com cargas para a frota do Estado. Paraguai, Argentina e Chile tem muitos produtos a oferecer ao Estado e ao Centro-Oeste, como derivados lácteos, vinhos, sal, feijão.
“O Paraguai cresce a uma média de 11% ao ano e se tornará um mercado atraente”, diz o empresário, citando ainda o barateamento nas importações de pescado do mar que chega do Chile para os restaurantes de Campo Grande. Atualmente, esse produto dá a volta de navio pelo sul da América do Sul até Itajaí (SC), de onde segue para a Capital sul-mato-grossense por rodovias. “Dos portos chilenos, o pescado poderá vir direto, em menos de dois dias”, apontou.
Durante a viagem de quase seis mil quilômetros realizada pela caravana de 29 caminhonetes até a costa do Pacífico, o coordenador-geral de Assuntos Econômicos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, João Carlos Parkinson de Castro, fez uma explanação técnica aos empresários de Antofagasta (Chile) quanto às vantagens que representaria a nova rota em termos de redução de tempo e custo em relação ao transporte marítimo.
Encontro com o governador
Parkinson disse que a rota permite conexões com outros moldais, como ferrovia e hidrovia, o que a torna altamente atrativa. Seu estudo prevê a instalação de um entreposto ou porto seco na cidade argentina de Salta, que fica distante 1120 quilômetros de Porto Murtinho e a 647 quilômetros de Antofagasta. Um caminhão com 30 toneladas, saindo de Murtinho, levaria 30 horas para chegar ao porto chileno, a uma velocidade de 60 km/h, na sua projeção.
A viabilidade comprovada do novo caminho em direção ao Pacífico, em que pese os embaraços aduaneiros que o Brasil pretende alinhar com os países parceiros, criou uma expectativa não apenas no segmento de transporte de cargas. O presidente da Associação Comercial de Campo Grande, João Polidoro, está convicto: “para nós a rota já começou e em novembro faremos uma rodada de negócios com empresários de Salta. Estamos com o pé na fronteira”.
O entusiasmo do empresariado, em especial daqueles que fizeram a viagem Campo Grande-Iquiqui (2.400 quilômetros), foi compartilhada pelo Governo do Estado, que articula, com o apoio da bancada federal, a construção da ponte sobre o Rio Paraguai, em Murtinho. Nesta terça-feira, às 18h, o governador Reinaldo Azambuja recebe os integrantes da caravana, quando será apresentado um balanço da viagem pelo secretário de Infraestrutura, Marcelo Miglioli. Veja mais fotos.
Texto e fotos: Sílvio Andrade - Subsecretaria de Comunicação (Subcom)