Campo Grande (MS) – Da matéria-prima em estado bruto ao produto totalmente acabado, preparado para a venda e para servir de descanso ou mesmo em momentos de descontração. Das mãos de internos da Penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande podem ter saído as cadeiras de fio utilizadas em muitas residências de Mato Grosso do Sul e até mesmo de outros estados.
Há três anos, a oficina instalada no presídio tem garantido aos custodiados trabalho remunerado e redução da pena. A iniciativa acontece por meio de parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e a empresa Pilatte Cadeiras, e tem evoluído consideravelmente nesse período, quadruplicando o número de trabalhadores no local.
“No começo a gente tinha quatro internos trabalhando e fazíamos apenas a aplicação dos fios nas cadeiras. Com o tempo fomos ampliando, fazendo benfeitorias na estrutura da oficina, como a instalação de cobertura e parede divisória, e hoje já temos 16 trabalhadores”, comenta o empresário Luiz Carlos Pilatte, dono da empresa parceira.
Segundo ele, atualmente todo o processo de produção é realizado na penitenciária. “Levamos os ferros para a estrutura e o pó de polietileno para a fabricação dos fios. No presídio, eles fazem a dobra, soldam e pintam os ferros, fabricam os fios na máquina e depois os enrolam nas cadeiras”, detalha. Conforme o empresário a produção média diária varia entre 130 e 150 cadeiras.
Pelo trabalho, cada reeducando recebe ¾ do salário mínimo vigente e diminuição de um dia na pena a cada três trabalhados, como estabelecido pela Lei de Execução Penal. A seleção é feita por uma equipe técnica do presídio, sendo avaliado, entre outros critérios, o bom comportamento. Na oficina, eles passam por um período de treinamento.
O local funciona como uma empresa mesmo, cada trabalhador tem uma meta de produção a cumprir, demonstrando comprometimento com o trabalho. “Estou muito contente, realizam um serviço de muita qualidade, nunca tive problemas. Desde que iniciei os trabalhos no presídio só foi necessária a substituição de um interno que não se adequou”, comenta Pilatte.
Para trabalhar com os detentos, ele revela que teve que superar muitos preconceitos e o medo, mas garante que valeu a pena a aposta. “Antes tinha uma visão muito diferente, jamais contrataria, agora estou satisfeito com os resultados”, assegura, revelando que tem um ex-detento da Máxima, hoje em cumprimento do regime semiaberto, trabalhando em sua loja. “Ele trabalhou aqui na oficina e agora me ajuda na parte de distribuição de cadeiras, realiza pequenas reformas e demais serviços de apoio. É um ótimo funcionário”, afirma.
De acordo com o diretor da penitenciária, João Bosco Correia, tem-se buscado na unidade prisional oportunizar trabalho aos reeducandos, de acordo com as possibilidades de segurança, para estimular a ressocialização. Além da fábrica de cadeiras de fios, os custodiados atuam na cozinha industrial, padaria, tapeçaria, oficina mecânica, funilaria, reciclagem, em serviços de manutenção e limpeza.
O presídio tem buscado também, pontua o dirigente, ocupar a mão de obra prisional em serviços em benefício da administração pública. “Atualmente, na tapeçaria, estamos reformando cadeiras de escritório da Polícia Militar. Recentemente, nossos internos fizeram toda a parte de funilaria de um veículo Chevrolet Veraneio ano 1999 da SAD [Secretaria de Estado de Administração e Desburocratização], que estava em estado de sucata; o veículo ficou em ótimo Estado e está sendo usado pela secretaria”, comenta João Bosco, reforçando que existe ampla mão de obra na penitenciária, que pode ser aproveitada.
Referência
O exemplo da Penitenciária de Segurança Máxima da Capital é reflexo de todo um trabalho realizado pela agência penitenciária, fazendo com que Mato Grosso do Sul seja referência em ocupação laboral, já que o percentual de internos trabalhando, cerca de 40%, supera a média nacional que é de 25%.
Segundo o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, o índice positivo se deve às parcerias estabelecidas com empresas, que hoje estão em torno de 150. “Estamos trabalhando para melhorar esses índices, já que o trabalho prisional, somado ao ensino, cursos profissionalizantes e demais ações de assistência, contribuem para a não reincidência criminal, quebrando o ciclo da violência”, finaliza.
Keila Oliveira - Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen)
Fotos: Keila Oliveira