Campo Grande (MS) – Com foco na reintegração social de detentos, o Centro de Triagem “Anízio Lima”, na capital, deu início ao "Projeto Musical Renascer”, que visa unir o ensino da arte da música e a assistência religiosa. A ação é uma parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e o Departamento de Capelania da Igreja Evangélica Assembleia de Deus Missões (IEADM).
A aula inaugural foi realizada nesta sexta-feira (13.4). Inicialmente, 20 internos participarão da iniciativa, que consiste na realização de aulas de instrumentos de sopro para reeducandos da unidade penal. O ensino será uma extensão às atividades musicais que já são desenvolvidas no presídio com a banda “Ressocializandos”.
Durante a solenidade de abertura, o diretor da unidade e coordenador do projeto, Alírio Francisco do Carmo, classificou o trabalho, a educação e a espiritualidade como pilares da ressocialização. “Todos os dias prestamos assistência religiosa aos internos, independente da religião e tem sido uma ferramenta transformadora”, afirmou, agradecendo a toda a equipe de servidores que contribuem para que a humanização da pena aconteça na unidade.
Apesar de ser realizado em parceria com a Igreja Assembleia de Deus Missões, Francisco destacou que o projeto "não tem placa" e é aberto a todos que quiserem buscar uma transformação de vida através da música e da fé em Deus.
Os três primeiros meses serão de aulas teóricas e posteriormente os internos aprenderão na prática todo o conhecimento adquirido. Por meio de doação da Igreja Evangélica Assembleia de Deus Missões, o curso terá um investimento total de R$ 12 mil. As aulas serão ministradas uma vez por semana pelo pastor maestro João Telles.
O diretor do Departamento de Capelania da IEADM, pastor Ivanaldo Ferrreira dos Santos, ressaltou que a música é uma ferramenta maravilhosa para trabalhar a alma, o íntimo, o caráter e a espiritualidade do ser humano. “Acredito na ressocialização dessas pessoas e também no potencial desse projeto; inclusive esse curso pode servir para a vida profissional dos internos quando voltarem a sociedade", defendeu. "Portanto, é uma grande oportunidade”, complementou.

Preso há mais de 16 anos, o interno Éder Neves, 35 anos, destacou que a música representa para ele uma profissão e uma forma de expressar sua fé. “Aqui no Centro de Triagem tive a oportunidade de conhecer Jesus, hoje sou um servo de Deus e temente ao Senhor. Só tenho a agradecer por esta chance de poder fazer esse curso musical, que para mim vai ser muito bom e acredito que é uma forma de ressocialização que todo preso deveria participar”, disse o interno.
Músico desde os 13 anos, o reeducando Fernando Henrique da Silva Chuvas, 28 anos, sabe tocar diversos instrumentos como violão, baixo, bateria, guitarra, pandeiro e cavaquinho. “Eu sempre quis aprender a tocar trompete e agora essa vai ser a oportunidade que eu precisava”, completou.
O interno acredita que a música estimula, inspira, traz paz, conforto e transmite a felicidade para pessoas. “Aqui dentro a música preenche a minha mente, me traz pensamentos positivos, e vai me trazer conhecimento, que é a única coisa que ninguém pode tirar de mim”, concluiu o interno que pretende continuar a profissão de músico assim que sair da prisão.
Em discurso, o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, parabenizou a iniciativa e destacou as diversas ações de ressocialização que são desenvolvidas nos presídios do Estado. “A assistência religiosa oportuniza mudanças de valores e de comportamentos em qualquer ser humano, por isso apoiamos parcerias como essas, porque acreditamos na recuperação dos detentos”, finalizou o dirigente.
A intenção é que o projeto possa ser expandido para todas as unidades do Complexo Penitenciário do Jardim Noroeste, dando oportunidade para que reeducandos de outros estabelecimentos prisionais, com perfil adequado, possam participar.
Texto: Tatyane Santinoni e Keila Oliveira.
Fotos : Tatyane Santinoni.