Onde o Brasil faz fronteira com o Paraguai, uma nova história começa a ser escrita, na qual indígenas e mulheres são protagonistas. O anúncio da Casa da Mulher Brasileira, do projeto MS Água para Todos e da construção dos centros culturais na região do Conesul emocionou o público.
“A gente fica muito feliz. Primeiro, queria agradecer o Nhanderu [Deus]. Porque a água é o principal instrumento para nós, não só o guarani e kaiowá, mas o ser humano, né?”.
A alegria com que a professora Renata Castelão, da comunidade Tey’Ikue, narra reflete o quanto a comunidade aguarda pela normalização do abastecimento de água potável no território, que virá graças ao convênio firmado nessa quinta (21), entre o Governo do Estado e a Itaipu Binacional.
Com investimento de R$ 60 milhões, o “MS Água para Todos” prevê a ampliação e melhoria dos sistemas de abastecimento de água em oito comunidades indígenas dos municípios de Amambai, Caarapó, Japorã, Juti, Paranhos e Tacuru. Impacto que vai chegar a mais de 34 mil pessoas.
“Com um projeto desse, onde a gente sabe que tem algumas regiões que há mais de seis anos não tem água potável suficiente, a aldeia e todos vão ganhar com mais saúde”, vibra a professora.
Na plateia como testemunha do novo capítulo a ser escrito na garantia de direitos e cidadania aos indígenas de Mato Grosso do Sul, Renata Castelão via mais um desejo sendo realizado. A assinatura do convênio que garante a construção do Centro Cultural também chega como resposta ao pedido que a própria indígena fez ao Governo do Estado.
“Quando ele esteve na minha aldeia, falei: ‘Eduardo Riedel, as mulheres precisam de um centro cultural pra poder aprender o artesanato, trabalhar à parte, ir ensinando um ao outro essa partilha’. Depois, vender o seu artesanato para ajudar na renda familiar, e também é uma forma de terapia, não é? Onde se esquece do mundo e está ali centralizado, fazendo o artesanato seja ela de linha, de semente”, descreve.
Vestida da arte indígena que ao mesmo tempo carrega luta, ancestralidade e cultura, a kaiowá já tem planos para o futuro centro. “Precisa ter palestras de autoestima, principalmente para as mulheres, para dizer que elas podem muito mais assim como eu posso. O que eu quero é poder lutar pela nossa comunidade, pelo nosso povo”, sustenta.
Cidadania
Garantir os direitos e a cidadania dos povos indígenas é uma das motivações pela qual a primeira Secretaria da Cidadania do País, com dedicação exclusiva à pauta, nasceu em Mato Grosso do Sul.
Para além da assinatura dos convênios, a secretária de Estado da Cidadania, Viviane Luiza, celebra a esperança.
“Como já dizia Santo Agostinho, a esperança tem duas lindas filhas: a indignação que nos ensina a não aceitar as coisas como estão, e a coragem para mudá-las. Aqui nós estamos com a coragem e com a indignação para fazer o melhor que podemos em políticas públicas para as comunidades indígenas, para as mulheres, para a infância, para as pessoas idosas”, parafraseia Viviane.
Mais do que documentos, Viviane Luiza enfatiza que é a dignidade humana, a qualidade de vida e a saúde que estão sendo colocadas como prioridade. “Temos então um convênio de água para que 35 mil pessoas sejam beneficiadas diretamente. É a garantia de mudança e transformação de vida”, completa.
Quanto aos centros culturais, a secretária explica que serão 10 Centros de Cultura Indígena em 10 comunidades nas cidades de Amambai, Antônio João, Aral Moreira, Caarapó, Dourados, Laguna Carapã, Paranhos, Ponta Porã e Tacuru, que vão garantir o desenvolvimento local, além da preservação e promoção da diversidade cultural respeitando a ancestralidade.
Cacique da aldeia Sassoró, em Tacuru, Ivan Montiel, contextualiza que com o passar do tempo, a cultura indígena tem sido deixada de lado pelas gerações mais novas.
“Então, esse centro cultural vai ser muito importante para os jovens, para a gente promover ações culturais juntamente com o Governo do Estado e com as prefeituras, e assim seguirmos trabalhando na preservação da nossa cultura”, ressalta.
Casa da Mulher Brasileira
A Rua Alameda dos Ervais guarda um terreno onde as mulheres da fronteira encontrarão acolhimento, segurança e justiça. É ali, próximo ao ginásio Pepe Portela, que a Casa da Mulher Brasileira de Ponta Porã será erguida.
A fundação para o equipamento de atendimento às mulheres em situação de violência que concentra em um único local serviços especializados também foi alicerçada nessa quinta. Quando o cerimonial anunciou a assinatura do convênio com a Itaipu, o Centro de Convenções foi tomado por salva de palmas.
Um dos nomes mais significativos no movimento de mulheres foi alçada ao palco. Irmã Olga Manosso, que tem pelo menos 46 anos de luta, foi quem levou um abraço às autoridades em nome de todas as mulheres.
“Vivi minha vida aqui e estou muito feliz. Hoje é um marco de uma luta muito grande no combate à violência que a mulher é submetida e na organização do povo. É uma vitória tão grande para nós do Brasil e para as companheiras do Paraguai também”, bradou.
Paula Maciulevicius, Comunicação Cidadania
Foto de capa: Matheus Carvalho/Cidadania
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