Como está a saúde da população trans? Governo de MS abre consulta pública para aprimorar linha de cuidado

  • Inclusivo
  • Paula Maciulevicius de Oliveira Brasil
  • 11/setembro/2024 5:00 am
  • Agência de Noticias do Governo de Mato Grosso do Sul

Nos próximos 30 dias a população trans de Mato Grosso do Sul vai poder dizer como está a linha de cuidado na saúde pública do Estado. Na terça-feira (10), as secretarias de Saúde e Cidadania abriram a consulta pública para receber contribuições tanto da população quanto dos profissionais.

São dois questionários para perfis diferentes. O primeiro link é exclusivo para profissionais de saúde, e o segundo, exclusivo para a comunidade LGBTQIA+

Coordenadora do comitê técnico de saúde integral da população LGBT+, do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, a técnica na gerência de Equidade em Saúde, Lesly Lidiane Ledezma Abastoflor, explica que as pessoas vão poder descrever dados positivos e negativos do processo da linha de cuidado.

"É importante frisar que não é uma consulta pública sobre o ambulatório trans, e sim sobre a linha de cuidado de atenção à saúde integral das pessoas trans, uma ferramenta onde elas vão poder relatar as barreiras visíveis e invisíveis que já sofreram em algum atendimento no processo da linha de cuidado", enfatiza Lesly.

Consulta pública foi apresentada em evento "Diálogos sobre saúde trans", na Escola Superior da Defensoria Pública do Estado. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

O lançamento da consulta pública ocorreu durante o evento "Diálogos sobre saúde trans" - reflexões acerca dos ambulatórios trans no Mato Grosso do Sul, realizado nesta terça-feira pela Defensoria Pública de MS, na Escola Superior da Defensoria.

Na oportunidade, estiveram reunidos representantes da SES (Secretaria de Estado de Saúde), Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS/Ebserh), além de coordenadores da ATMS (Associação das Travestis e Transexuais de MS), IBRAT e de movimentos sociais e a população trans em geral.

Digitador, Luan Henrique da Silva Souza, de 29 anos, é membro do IBRAT/MS (Instituto Brasileiro de Transmaculinidades) e ressaltou como é fundamental discutir a saúde trans ouvindo a população.

Digitador, Luan Henrique compartilhou experiência de atendimento em saúde, ao lado da coordenadora da ATMS, Mikaella Lima. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

“Tive um caso uma vez, de ir fazer uma ultrassom de vesícula, e passei por uma situação extremamente constrangedora. O rapaz que fez o exame percebeu que tinha algo ‘diferente’, e chamou outra pessoa para ver. Não era diferente, era um útero. Homem trans tem útero, tem vagina e quer ter os seus direitos. A gente precisa ter esse olhar específico”, compartilhou. 

Diálogos

A programação trouxe ainda especialistas para debater o tema. A primeira a falar sobre “Humanização no atendimento de saúde: desafios e oportunidades”, foi a assistente social, especialista em saúde da família e mestranda, Bel Silva. 

“A gente tem que pensar nos erros que nós, como profissionais de saúde, estamos cometendo, e o principal é essa questão do binarismo: de feminino e masculino apenas”, pontua Bel. 

Mestre em saúde da família e servidora da SES, a assistente social Bel Silva falou das experiências profissionais e pessoais na saúde. Na mediação, esteve a superintendente de Atenção Primária à Saúde da SES, Karine Cavalcante da Costa.

Como mulher trans, ela também trouxe para o debate não só a vivência profissional como pessoal.

“É um absurdo a quantidade de violências que a gente sofre. É muito bom estarmos lançando uma consulta para profissionais e também a comunidade, que vão traçar como vai ser elaborada e aprimorada essa linha de cuidado. Quando aquela pessoa trans está chegando na unidade de saúde, a gente tem que pensar se ela tem habitação, trabalho, lazer. Não adianta só encaminhar para hormonização, temos que ter o olhar e o cuidado integral”, defende Bel. 

Para o subsecretário de Políticas Públicas para População LGBTQIA+, pasta vinculada à Secretaria de Estado da Cidadania, Vagner Campos, a construção da pauta LGBT+ está diretamente ligada à capacidade de saber quem a política pública quer impactar.

Subsecretário de Políticas Públicas para População LGBTQIA+, Vagner Campos, destacou consulta pública como marco histórico.

“Trago aqui os sonhos as lutas do movimento social, que nas suas conferências, plenárias e debates, pautaram essa grande necessidade. E hoje, representando a Secretaria de Estado da Cidadania, quero trazer presente a equipe da Subsecretaria e todas as outras equipes que estiveram nessa luta e na possibilidade real de implantar uma política de tamanha grandeza”.

Coordenadora do Nudedh ( Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos), a defensora pública Thaísa Defante enfatizou o quão histórico foi o debate e a abertura da consulta.  “É uma honra e uma alegria participar deste momento. Nós mudamos o patamar da discussão, e estamos discutindo a linha de cuidado, o que poderemos fazer para melhorar e quais são os passos a serem tomados daqui pra frente”, resume. 

Consulta pública

A consulta pública é a oportunidade para que a população e os profissionais da área participem ativamente da formulação de políticas públicas. Neste caso específico, os dois públicos vão contribuir com a revisão e aprimoramento da Linha de Cuidado do Processo Transexualizador em Mato Grosso do Sul.

Este é um passo crucial para garantir que a população trans receba cuidados de saúde respeitosos e eficazes. 

Como participar?
- Para a população trans: Clique aqui para acessar o formulário;
- Para profissionais de saúde: Clique aqui para acessar o formulário.

A consulta pública será encerrada no dia 10 de outubro de 2024. 

Paula Maciulevicius, da Comunicação da Cidadania

Veja Também
Últimas Notícias