O diretor, Marcelo Flecha, explica que desde o início do processo de pesquisa até a estreia, foi um ano e meio de trabalho, sendo seis meses de ensaios, cinco vezes por semana, quatro horas por dia. “A gente trabalha gradualmente, vamos desenvolvendo os elementos integrados à cena. Conforme os personagens vão se desenvolvendo no convívio diário, as soluções vão aparecendo”.
O grupo, que já esteve em Campo Grande no ano passado em uma apresentação no teatro Prosa com a peça “Pai & Filho”, por meio do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura, completa dez anos de existência e no Boca de Cena 2017 também ministrou a oficina O Quatro de Antagônicos como instrumento de treinamento para o ator, e participou da mesa redonda sobre resistência teatral em tempos de crise. “Por já termos estabelecido contato com Campo Grande, isso nos deixou muito tocados em poder estabelecer um retorno à cidade, oferecendo a oportunidade de mostrar a produção de um grupo de outro Estado distante”.
A Pequena Companhia de Teatro trabalha com a dramaturgia do ator. “O ator tem um papel importante na formação do espetáculo. A música, o cansaço dos personagens, tudo influência na forma como o público frui o espetáculo. A voz para nós é um prolongamento do corpo. Todas as decisões do corpo, o posicionamento corporal, como os personagens falam, são decisões do ator, que tem o poder de contar essa história para vocês como eles escolheram”.
Para Marcelo, a técnica não deve se sobrepor ao fazer artístico. “A técnica só serve para fazer a obra de arte, para formalizar, todo o resto é mecanicismo. Na construção da obra de arte, se a técnica se sobrepõe a isso, já é o virtuosismo desnecessário. Nossa construção é muito pouco regionalista. A gente faz uma construção menos ligada a essas características regionais e buscamos gerar uma construção que brinca com a ilusão. A realidade pode ser diferente”.
Sobre a adaptação de textos literários para o teatro, Flecha afirma que não é uma característica específica do grupo, mas que busca encenar textos que tenham a ver com o que o grupo quer dizer. “Quando a gente não encontra esse dizer num texto dramático, pesquisamos outros textos para nos basearmos no que queremos dizer”.
Ator da Companhia, Cláudio Marconcine, que atua no espetáculo com Jorge Choairy, diz que em São Luís existem poucos grupos de teatro, por isso o grupo decidiu montar espetáculos para imprimir a sua forma de dizer as coisas. “A gente trabalha com teatro reflexivo, não é para entreter, tem um discurso político-ideológico por trás. Trabalhamos com a dramaturgia do ator. Teve uma época em que o autor do texto era dono da montagem, depois veio a fase do diretor, e hoje o ator participa da obra. Nós participamos inclusive da parte burocrática e administrativa da companhia. A gente participa, interfere quando vai para a sala de ensaio, o corpo é que vai direcionando a construção dos personagens”.
A Pequena Companhia de Teatro já passou por 25 estados brasileiros com seus espetáculos. “Isso só foi possível graças a uma série de conjunturas que se estabeleceu no Brasil, a políticas culturais que possibilitaram a grupos regionais circularem pelo país. Nós entendemos o teatro profissionalmente. Estamos tentando conseguir a disponibilidade para o fazer teatral. Esta decisão da Companhia não é uma coisa comum, no Maranhão não são muitas as companhias de teatro que sobrevivem da arte. É uma decisão de resolver encontrar um caminho nessa busca”, diz o diretor Marcelo Flecha.
E ele agradece ao Governo do Estado a oportunidade de participar da Mostra Boca de Cena. “Agradecemos ao Governo do Estado, pois numa época em que o país sofre um desmonte cultural, um governo manter uma mostra de teatro como essa é importante. O Governo de Mato Grosso do Sul mantém sua política cultural, isso é uma alegria. Este é um governo sensível à questão cultural. Tem coisa que só a arte dá condições, ela toca no ponto em que outras necessidades humanas não conseguem tocar. Temos tido aqui uma receptividade muito boa. A ideia é que essa mostra possa se perpetuar. Estamos atentos a toda a iniciativa que se mantém, e a Boca de Cena merece nosso louvor”.
Texto: Karina Lima - Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS)
Fotos: Helton Perez – Vaca Azul