Campo Grande (MS) – Materializado em uma estátua em bronze de 400 quilos, sentado de forma despojada em seu velho sofá com um sorriso radiante, o poeta maior Manoel de Barros vive na obra do artista plástico campo-grandense Ique Woitschach, cujo projeto foi concluído e apresentado ao governador Reinaldo Azambuja, nesta terça-feira (18), no Marco (Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande). A próxima etapa será sua instalação, no canteiro da avenida Afonso Pena, uma das principais vias da Capital.
Encomendado pelo Governo do Estado para celebrar o centenário de nascimento do escritor pantaneiro e os 40 anos de criação de Mato Grosso do Sul, o monumento, como afirmou Reinaldo Azambuja, perpetuará a obra e a figura singular de um ícone da literatura brasileira com reconhecimento mundial, que faleceu aos 97 anos. “É uma honra para nós homenagear uma pessoa que deu sua vida pela natureza, pelo nosso Pantanal, uma pessoa além do seu tempo”, disse o governador.
A entrega simbólica da obra, com a presença do seu autor, foi marcada por fortes emoções, principalmente quando se revelou o resultado final de uma escultura rica em detalhes, desde o sorriso cativante do poeta, aos seus trajes simples, as pernas cruzadas, o tênis surrado, ao lado de caramujos e do ninho de pomba, com os quais dialogava e se inspirava entre imagens, lembranças e metáforas. “O poeta é promíscuo dos bichos, dos vegetais, das pedras”, escreveu.
Seu quintal
Na oportunidade, o artista plástico Ique Woitschach presenteou o governador com uma réplica do seu trabalho, também em bronze, pesando 8,5 quilos. Ambos sentaram-se ao lado do poeta, no sofá, sendo sucedidos pelas demais autoridades presentes – o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Junior Mochi, e os secretários estaduais Eduardo Riedel (Governo e Gestão Estratégica) e Athayde Nery (Cultura e Cidadania).
O local para instalação da estátua de Manoel de Barros foi definido pelo seu autor e técnicos da secretaria estadual de Cultura e Cidadania e do Sesc, instituição que ficará responsável pelos cuidados da obra. O quintal do poeta ficará na Avenida Afonso Pena, entre as ruas 13 de Maio e Rui Barbosa, quase em frente ao antigo quartel do Comando Militar do Oeste (CMO). O monumento se abrigará entre duas árvores centenárias da espécie figueira.
“Estamos vivenciando um momento único, perpetuando a imagem de um cuiabano que escolheu nosso Estado para viver e amar, oportunizando as pessoas e aos visitantes a emoção de sentarem-se ao lado do poeta e vivenciarem a figura emblemática que era e se tornou tão querido pelos sul-mato-grossenses”, disse o governador, avalizando o espaço escolhido para a fixação da estátua ao lembrar que Manoel de Barros disse que gostaria de ser uma árvore.
Maior emoção
Medindo 1,38 metro de altura (incluindo o pedestal de fixação da base de concreto) por 1,60 metro de largura, a escultura em tamanho real apresenta algumas características que somente vivenciará quem teve contatos mais próximos com o poeta. O premiado artista Ique Woitschach, que mora no Rio de Janeiro desde jovem e trabalhou para grandes grupos de comunicação, como Jornal do Brasil, Rede Globo e Estadão, revelou detalhes, como o relógio no seu pulso, que marca o amanhecer e o anoitecer, e o dedo indicador torto da mão direita.
“Esse primeiro trabalho em minha terra também marca meus 40 anos de carreira e materializa toda a emoção que me acompanhou durante toda sua concepção”, explicou o artista de 59 anos. Ele contou que, além de fotos e vídeos, buscou informações juntos aos familiares de Manoel de Barros e o contato com os objetos que o cercavam, como o sofá, e o ambiente do seu antigo apartamento no Rio de Janeiro, para captar suas energias. "Estive na casa dele, sentei nesse sofá, percebi sua presença."
Ique Woitschach, que se emocionou ao falar com os jornalistas no ato realizado no Marco, também revelou que procurou conceber uma imagem do poeta mais novo, entre 70 e 80 anos, e os sapatos sem meias que esculpiu no projeto inicial – cujo protótipo foi entregue ao governador Reinaldo Azambuja, no início do projeto – foram substituídos pelo par de tênis. “O Manoel detestava usar sapatos e gostava de meias finas, como está na obra pronta. Na realidade, não fiz seu retrato, mas a imagem de como ele era visto pelas pessoas”, explicou.
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Sílvio Andrade - Subsecretaria de Comunicação (Subcom)
Fotos: Chico Ribeiro