Caminhada conduzida por especialistas provoca reflexões sobre os marcos históricos, a arquitetura e a cultura de Corumbá
No fim de tarde do dia 16 de maio no 18ª Festival América do Sul, o projeto “Corumbá a pé” levou turistas, estudantes e moradores da cidade a uma imersão em sua história, arquitetura e cultura.
Conduzido pelo historiador e arquiteto João Santos, superintendente do IPHAN-MS, e pela historiadora e professora Ramona Ortiz, a caminhada teve início na Praça da República, e percorreu alguns dos principais pontos históricos da região.
Na praça, João e Ramona contaram as origens de Corumbá, fundada em 1778, inicialmente como Arraial de Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque. Em seguida destacaram a importância da Igreja da Nossa Senhora da Candelária e do Obelisco, além de comentarem como a praça representa simbolicamente a retomada da cidade durante a guerra com o Paraguai.
Ramona Ortiz relatou a relevância desse momento histórico: “A praça é o coração da cidade, que representa toda a resistência e a história de Corumbá, desde sua fundação até hoje.”
A caminhada seguiu pela região conhecida como “cidade baixa”, um conceito que remete às cidades portuárias brasileiras. Lá, os historiadores trouxeram à tona a poesia do corumbaense Lobivar Matos, do livro “Sarobá”, abordando o contraste social e racial que isolava pretos e pobres do resto da cidade.
O percurso incluiu a descida pela ladeira Cunha e Cruz, também conhecida como Ladeira da Candelária, onde foi lembrada a tradição do banho de São João — uma celebração que ocorre todo mês de junho e é considerada patrimônio imaterial nacional, atraindo devotos de toda região.
Durante a trilha, João Santos destacou projetos de preservação de Patrimônio Histórico, como o projeto Monumenta, que incentiva a restauração de sobrados e edifícios históricos, além de enaltecer a beleza da arborização da cidade, especialmente os flamboyants.
Ramona pontuou a importância dos Fortes Coimbra e Junqueira, marcando a fronteira com a Bolívia e simbolizando resistência na guerra com o Paraguai. Ela também recordou que Corumbá possui algumas das agências bancárias mais antigas do Brasil, como a do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, além de ter sido um dos maiores portos da América Latina.
“Corumbá sempre viveu de seu comércio e sua posição estratégica, e isso se reflete na sua história,” destacou Ramona.
A caminhada terminou em frente ao prédio do Iphan em Corumbá, em um momento de reflexão sobre a importância de explorar e valorizar o patrimônio cultural da cidade.
João Santos reforçou o valor da iniciativa. “A ideia do ‘Corumbá a pé’ é promover uma percepção mais profunda da cidade, tanto para moradores quanto para turistas. Uma caminhada permite enxergar detalhes, entender o significado das construções e das tradições.”
Para Ramona, o passeio foi uma oportunidade de conectar o público à história da cidade e reforçar a importância de caminhar para compreender a própria identidade.
“Participar desse passeio dentro do Festival América do Sul é uma alegria, pois mostra como as nossas raízes culturais são ricas e fundamentais para o que somos. Além disso, corumbaenses e visitantes têm a chance de reconhecer essa história e se sentir parte dela,” afirmou.
Recentemente radicada em Corumbá, a participante da caminhada Rosália Duarte comentou: “Mesmo vindo aqui várias vezes, caminhar com olhos de quem conhece a história faz toda a diferença. Você percebia detalhes que antes passavam batido, o significado das construções, da arquitetura. Essa experiência enriquece a nossa relação com a cidade, que é tão antiga e cheia de histórias.”
O projeto “Corumbá a pé” reforça a importância de valorizar o patrimônio cultural por meio do movimento, da reflexão e do contato direto com os espaços históricos. Como destacou João Santos, “queremos estimular as pessoas a conhecerem melhor sua cidade, sua identidade e a se apropriarem desse legado, caminhando pelo próprio espaço urbano, com atenção e orgulho.”
O Festival América do Sul acontece até o dia 18 de maio, com uma vasta programação cultural. Confira as atrações aqui: https://mscultural.ms.gov.br/festival/festival-america-do-sul/.
Daniel Rockenbach, Ascom FAS 2025
Fotos: Altair Santos/Ascom FAS 2025