No coração do pantanal, empreendedores criativos materializam cultura e história com sustentabilidade e tradição.
A economia criativa pulsa em Corumbá durante o FAS (Festival América do Sul 2025), reunindo empreendedores que transformam sonhos em trabalho, ideias em objetos e afeto em sustento. Cada peça carrega uma história e encontra, a cada venda, um novo lar onde a trama pode continuar.
Entre os empreendedores criativos está Bel Paes, de 42 anos, mãe de quatro filhos e natural de Três Lagoas (MS). Ela trocou a rotina em uma multinacional pela costura criativa, encontrando uma forma de viver mais próxima dos filhos. Foi entre agulhas e linhas que Bel descobriu uma nova paixão: criar bichinhos de pelúcia inspirados na fauna pantaneira.
As capivaras logo se tornaram as estrelas de seu ateliê. Inspirada pela popularidade do animal, que é símbolo afetuoso da América do Sul, ela desenvolve capivaras temáticas, como a “capi bailarina”, judoca, manicure e “capi fitness”.
As opções são infinitas, pois os bichinhos podem ser desenvolvidos conforme a imaginação do público. O sucesso foi além das fronteiras do Pantanal, as capivaras de pelúcia criadas por Bel já chegaram a países como os Estados Unidos, Japão, Alemanha e Polônia.
Um dos momentos curiosos de sua trajetória aconteceu recentemente, quando uma fã presenteou o ator coreano Lee Jun-ho, estrela do dorama “Sorriso Real”, com uma “Capi Bolsa” durante um show em São Paulo. Encantado, o artista passou boa parte da apresentação segurando o presente e, ao final, ainda deu um beijinho na capivara, gesto que viralizou entre os fãs brasileiros.
- Jun-Ho utilizando seu presente em um show em São Paulo
- Jun-Ho beija a “Capibolsa”
Quando perguntado sobre a sua participação no Festival América do Sul, Bel responde:
“É a realização de um sonho, sabe? Ser artesã me permite, por exemplo, viver plenamente a maternidade. Consigo acompanhar de perto o crescimento dos meus filhos, participar dos momentos importantes na vida deles e viver de forma confortável. Tudo por meio da minha arte. Às vezes, surge um tema novo e eu penso: ‘Quero fazer uma capivara assim’. E então eu vou lá e crio. O mais incrível é ver, nas feiras, o sucesso que aquela capivara faz, uma ideia que nasceu num momento de devaneio, da minha imaginação. Isso é muito, muito gratificante. E quando estou nesses eventos, vejo o carinho das pessoas, o brilho nos olhos, o afeto por uma peça feita 100% à mão. Não tem preço”, destaca a artesã.
“transformando o lixo em beleza e o estigma em dignidade”
O FAS também contou com uma tenda de artesanato dos países da América do Sul, um espaço onde culturas se encontram, fortalecendo ainda mais a diversidade e a riqueza do Festival por meio do intercâmbio entre os povos sul-americanos.
Entre os empreendedores participantes, está um grupo de mulheres artesãs do Paraguai, integrantes da empresa Cateura, que produz acessórios a partir de materiais recicláveis. A iniciativa tem origem em uma comunidade localizada na periferia de Assunção, às margens do rio Paraguai, onde está situado o maior lixão a céu aberto do país, também chamado Cateura. A região abriga mais de 30 mil pessoas, distribuídas em dez bairros.
Com peças produzidas a partir de materiais recicláveis, o grupo de artesãs transformam o que seria descartado em jóias e acessórios cheios de identidade. Vindas da periferia de Assunção, capital do Paraguai, essas mulheres mostram como o empreendedorismo social pode gerar renda, preservar o meio ambiente e promover inclusão, tudo ao mesmo tempo. Uma das integrantes, Sara Gaona, de 44 anos, conta a trajetória do grupo e sua participação no Festival América do Sul:
“Cateura é o maior lixão de Assunção, onde moramos, mulheres que vivem nos bairros ao redor. Esse trabalho nasceu de um projeto, um plano de negócios sobre como trabalhar com o lixo. Fomos capacitadas pela cooperação espanhola por um designer de acessórios de noiva da cidade de Yaguarón, Abel Morel. Já estamos há quatro anos nessa jornada, com 19 coleções lançadas, além de coleções temáticas como Outubro Rosa, Nações Sem Violência, 25 de Novembro. Nós já fomos para a Espanha, Peru, São Paulo, e agora estamos aqui, no Festival América do Sul”.
Sara explicou sobre os materiais utilizados nas peças: “nosso material principal é o cobre, que vem de eletrodomésticos fora de uso. Também usamos cabos de internet, fundos de refletores de alumínio, peças de liquidificador, micro-ondas, tudo que está em desuso, eletrodomésticos em geral”, frisa a artesã.
A economia criativa no Mato Grosso do Sul, movimenta o futuro, gerando renda para quem se dedica a manter a cultura viva. Cada compra representa mais do que um produto é um pedaço de história, criatividade e afeto que você leva para casa. E, ao mesmo tempo, um incentivo para que artistas e fazedores de cultura possam continuar a transformar o mundo com sua arte.
Bel Manvailer, Ascom FAS 2025
Fotos: Altair Santos/ FAS 2025