Campo Grande (MS) - Durante quatro dias, Bonito se tornou a capital da cultura sul-mato-grossense. Ou melhor, matogrossulense, como defende o secretário de Estado de Cultura e Cidadania (SECC), Athayde Nery. O “Festival de Inverno de Bonito” (FIB), realizado entre 27 e 30 de julho, contou com um público de 38 mil pessoas, de acordo com a organização do evento. Os mais de 6 mil leitos de hotéis bonitenses também lotaram, comprovando o sucesso de público da 18ª edição do FIB.
Com mais de 200 atrações em diversos segmentos culturais como artes plásticas, artesanato, dança, teatro, palestras e muita música, o FIB cresceu 150% em relação a edição de 2016. Diariamente, o público teve acesso a 17 horas de programação cultural, que reuniram artistas locais e nacionais. Entre as novidades deste ano, a programação no Centro de Múltiplo Uso (CMU) com a participação efetiva da população de Bonito no festival, a presença das subsecretarias ligadas a SECC, sessões de cinema em um caminhão itinerante, um mostra culinária com a votação durante o festival via internet, a transmissão ao vivo dos shows da Praça da Liberdade pela TV Educativa MS e o festival levando artistas para o distrito de Águas de Miranda, o Assentamento Guaicurus e o bairro Marambaia.
“O FIB cumpre o papel de mostrar para o Brasil e o mundo que Bonito, além de ter sua exuberância natural, também tem potencial artístico e é um espaço de diálogo. Esse diálogo entre os diversos setores da sociedade vem sendo construído por meio de ações do festival”, pontua Athayde Nery. Segundo ele, o FIB deste ano carrega uma importância ímpar. “São dois momentos que se cruzam. A maioridade do festival com sua 18ª edição e a maturidade do Estado com seus 40 anos. São dois momentos simbólicos e importantes”, completa.
O quadragésimo aniversário do Estado, que será comemorado em 11 de outubro, fez com que a programação do FIB se voltasse para o Mato Grosso do Sul. No palco da Praça da Liberdade, o foco foram os artistas relacionados ao Estado. Com exceção de Karol Conká, todos os artistas musicais que se apresentaram na Praça da Liberdade têm pontos de convergência entre sua história e Mato Grosso do Sul. O público aprovou as escolhas. “É uma oportunidade e tanto perceber a riqueza cultural do Estado. O festival ofereceu isso para todos que estiveram em Bonito nesses últimos dias”, aponta Fernando Rodrigues, pesquisador da Embrapa que viajou de Corumbá para prestigiar o FIB.
Diálogo com Bonito
A novidade do CMU foi bem recebida pelo público do festival, especialmente pelos bonitenses que tiveram a oportunidade de se integrar ainda mais ao FIB. No local, foram apresentadas atividades culturais de várias escolas públicas do município, assim como oficinas e shows musicais. “Esse espaço no CMU nos permitiu mostrar ao público a grandiosidade de talentos que temos em Bonito. Ficamos emocionados com o que vimos. Nossas crianças e jovens, que vieram da rede municipal e estadual de ensino, assim como de ONGs, puderam mostrar os seus talentos”, descreve Roseli Gambim, secretária de Educação e Cultura de Bonito. “As oficinas também deixam conhecimento, informação para Bonito. É um legado que fica”, comemora.
Para o prefeito de Bonito, Odilson Arruda Soares, o FIB cumpriu seu papel de favorecer o desenvolvimento da região. “Não se trata apenas da cultura, mas o festival nos ajuda a alavancar a cidade economicamente durante esse período considerado ‘baixa temporada’. Também vimos o festival criar um diálogo com os moradores, chegando aos distritos de Águas de Miranda e Guaicurus. São detalhes que fazem a diferença. Bonito agradece por ter protagonizado tantos momentos importantes”, enfatiza o prefeito.
Comer bem
A gastronomia também se destacou no “Festival de Inverno de Bonito” em 2017. Pela primeira vez o festival contou com um evento de destaque na área. A “Mostra Gastronômica” reuniu 24 restaurantes de Bonito. Cada um deles foi desafiado a criar um prato especial. A variedade foi grande e contou inclusive com pratos inusitados como o “Ceviche Caiman Pantanal”, com carne de jacaré.
No último dia do festival foi revelado o prato mais votado, símbolo de Bonito até a próxima edição: a “Rabada ao Vinho Tinto” do Espaço Jack, criada em parceria com o Chef André Nardo. “Foi maravilhoso, agradeço a todos que estiveram no meu restaurante e me ajudaram a conquistar esse reconhecimento. A mostra motivou e mobilizou muita gente que está na luta diária em Bonito. Achei isso muito importante”, comenta a vencedora Jacqueline Auxiliadora Loureiro, proprietária do restaurante.
“Recebemos mais de 1,5 mil votos. É um momento importante para a nossa gastronomia e, sem dúvida, demos voz à população para entender o que eles gostaram mais”, aponta Juliano Wertheimer, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) de Mato Grosso do Sul. “Conhecer a gastronomia local é parte importantíssima em qualquer passeio turístico, a mostra serviu para dar ainda mais valor à nossa culinária”, ressalta. A “Mostra Gastronômica” contou com o apoio da Associação dos Cozinheiros Profissionais do Pantanal.
Transmissão ao vivo
Quem não pode ir até Bonito teve a oportunidade de acompanhar a programação do FIB pela TV Educativa de MS (canal 4 da tevê aberta e canal 15 da Net). A emissora fez transmissões ao vivo veiculadas no canal televisivo assim como pelo seu portal na internet. A TV Cultura e a Rede Brasil abriram espaço em suas respectivas programações com flashes ao vivo e pedaços dos shows do palco da Praça da Liberdade. Foram cerca de 16 horas de programação transmitida diretamente de Bonito, além da cobertura feita para os jornais da emissora.
“Era algo que tínhamos vontade de fazer há tempos. Com uma equipe enxuta conseguimos realizar uma cobertura competente que ressaltou o papel da TVE, que é o de levar cultura ao público sul-mato-grossense”, pontua Bosco Martins, presidente da Fundação Estadual Luiz Chagas de Televisão e Rádio Educativa.
Além da TV Educativa MS, diversos veículos da imprensa estiveram presentes no festival. Entre eles o jornalista Pedro Alexandre Sanches, da Carta Capital, a repórter María Martín do jornal El País, da Espanha, e a Rádio Eldorado de São Paulo. A maioria dos veículos de Mato Grosso do Sul também realizou cobertura jornalística do FIB, como os jornais Correio do Estado e O Estado de MS, os portais Campo Grande News, Mídia Max e Top Mídia News, a Rádio Educativa MS e o veterano crítico cultural e agora blogueiro Alex Fraga.
Cinema e Seminários
O cinema teve destaque no FIB por meio do Cinetruck, um caminhão adaptado com uma sala de cinema que transitou na cidade com uma programação diversificada de filmes. O destaque ficou para a mostra que exibiu produções marcantes de Mato Grosso do Sul. Todas as sessões foram lotadas e personalidades importantes do cinema de MS transitaram pelo festival, como os cineastas David Cardoso, Cândido Alberto da Fonseca e Joel Pizzini. Também marcou presença o mergulhador Lawrence Wahba, com seu premiado filme “Todas as Manhãs do Mundo”, exibido com sessão lotada no Sebrae.
O seminário “Cultura, Turismo e Cidadania” também reuniu várias personalidades para discutir diversos assuntos relacionados a temas como a malha cultural de MS, LGBT cultura e diversidade, história e literatura indígenas e rota Retirada da Laguna, além de palestras que destacaram assuntos como a “Paisagem Natural e Patrimônio Cultural” de MS e a conferência “Encontro Estadual de Gestoras Municipais de Políticas para Mulheres”.
Campanhas Parceiras
O “Festival de Inverno de Bonito” apoiou três campanhas com diferentes focos, uma ação inédita na história do festival. O Instituto Sangue Bom, criado e coordenado pelo Professor Carlão, realizou 115 exames preventivos de câncer de mama e colo de útero e 60 cadastramentos de doares de medula óssea.
“O resultado foi extremamente positivo. A campanha foi bem recebida pela população. A prevenção é muito importante e levar este serviço é tirar pessoas das filas de espera. Provavelmente é o único festival artístico do país que faz este tipo de parceria, unindo cultura e ação solidária”, frisa o Professor Carlão. A ação do Instituto Sangue Bom contou ainda com o apoio da Secretaria de Saúde de Bonito, a Prefeitura de Bonito e o Hemosul.
A ONG Fraternidade Sem Fronteiras (FSF), também com sede em Campo Grande, aproveitou o estande na Praça da Liberdade para divulgar suas ações. “Conseguimos expor nosso projeto para uma grande quantidade de pessoas. O festival também criou a oportunidade de dialogar com empresas e líderes de diversos segmentos”, comenta Wagner Moura, idealizador da FSF.
A ONG atende 8,5 mil crianças por meio de centros de acolhimento em Moçambique e Madagascar. Os espaços são mantidos por meio de doações de voluntários que apadrinham as crianças, entre eles, o ator Reinaldo Gianecchini. “Tivemos um crescimento no número de apadrinhamentos, o que demonstra o sucesso de nossas ações”, comemora Wagner Moura.
Outra campanha que teve espaço no festival foi a “Maria da Penha Vai à Escola”, desenvolvida pela Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres (SPPM) em parceira com a Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho (Sedhast) e Secretaria de Estado de Cultura e Cidadania (SECC). O governo de MS divulga este mês a campanha “Agosto Lilás” para combater e denunciar a violência contra a mulher. Alguns artistas que se apresentaram no FIB, como Ney Matogrosso, Karol Conká e Marina Peralta, tiraram fotos divulgando a ação e também falaram sobre o assunto durante seus shows.
Portal e Ambientação da Praça
Quem circulou durante o FIB não deixou de notar, na Praça da Liberdade, o Portal do Festival. Uma estrutura amarela, de 9 metros de base por 7 metros de altura, criada pela artista bonitense Buga Peralta, em parceria com a Verve Estúdio, que serviu de cenário para muitas fotos do público presente e onde as pessoas podiam escrever recados e assistir a vídeos do FIB em sua parte interna.
A arquitetura do portal foi assinada por Ricardo Alcarpe e a equipe cenotécnica foi composta por Paulo Rogério Calafati, Fabrício Soares e Francisco Soares, além do assistente Tiago Pavan. “A ideia do portal foi baseada no material gráfico já pronto do festival. Um violão retrata bem o ponto alto do festival, os músicos. Foi uma homenagem aos artistas da música. Construímos e montamos em nove dias”, explica Buga.
A ambientação da Praça da Liberdade foi criada por Gabi Dias e também caiu nas graças do público. A artista visual fez vários ambientes no local, como a instalação “Cama de Gato” e a cortina de tecido “Mó Fita”, que caiu no gosto da criançada e foram locais em que a maioria dos frequentadores da Praça da Liberdade tirava fotos ou parava para se distrair e descansar.
Gabi Dias utilizou mais de 300 quilos de tecido de descarte da indústria têxtil e vários outros materiais, como balões de festa, espelhos, flores e plantas naturais. Além das instalações, a artista também criou outros objetos para a interação do público. “Utilizar materiais descartados é uma maneira de refletir sobre a produção do nosso lixo e o consumo desenfreado que vivemos. É uma busca por novas alternativas”, afirma Gabi Dias.
Esporte e Passeios
O FIB ainda teve várias outras atividades, inclusive relacionadas a arte de rua, ao esporte e ao turismo. Entre eles, um campeonato de skate comandado pelo Coletivo Viva Rua, a Corrida de Inverno de Bonito – Rota das Estações e o passeio V Night Bike com circuito cultural noturno em locais em que viveu Sinhozinho, personagem histórico da cidade.
O Clube de Astronomia Carl Sagan e a Casa de Ciência e Cultura, da UFMS, possibilitaram que o público observasse o céu noturno por meio de um telescópio instalado na Praça da Liberdade. O ecoturismo também foi atração no FIB com a visita ao Parque Nacional da Serra da Bodoquena, passeio que percorria uma trilha de 2.600 metros e contou com a parceria da Secretaria de Turismo de Bonito. O festival ainda recebeu o escritor indígena Cristino Wapichana, de Roraima, que lançou o premiado livro infantil “A Boca da Noite”. Houve ainda espaço para um desfile de moda criativa, a artesã Lucineide Barbosa ensinando o bordado de Alagoas, um encontro de arte educadores de Mato Grosso do Sul e assinatura de um convênio entre o Governo de MS e a Volkswagem do projeto “Aprendendo com Arte”.
Diversidade Presente
Pela primeira vez o FIB também contou com a presença das subsecretarias ligadas a Secretaria da Cultura e Cidadania. Assim como a Subsecretaria de Políticas Públicas para a População Indígena (SPPPI) já vinha se destacando no festival com a sua Tenda dos Saberes Indígenas, as outras subsecretarias da Juventude, LGBT, Mulheres e Igualdade Racial tiveram espaço de destaque na programação.
“A inclusão das subsecretarias no festival é uma ação importante e inédita dentro de um governo do Estado. É um símbolo que estamos lançando para o Brasil de que cultura e cidadania têm que caminhar juntas, até para enfrentar esse momento que o mundo vive, de absoluta intolerância”, destaca o secretário Athayde Nery. “Nosso objetivo é desenvolver com nossas ações da secretaria a cidadania cultural, que significa cultivar todas as áreas com sementes de direitos humanos, liberdade e paz! Acredito que somente desta maneira vamos deixar frutos para o futuro e modificar o presente. Esta edição de 2017 do Festival de Inverno de Bonito foi um marco neste sentido”, finaliza.
Texto e fotos: Assessoria Festival de Inversno de Bonito (FIB)