Campo Grande (MS) - Em meados dos anos de 1980, a Sociedade de Defesa do Pantanal (Sodepan), criada numa fase mais aguda do contrabando de peles de jacarés, iniciou um movimento para resgatar as tradições pantaneiras. Nasceu o "Dia do Homem Pantaneiro", 4 de outubro, celebrado pela primeira vez na centenária fazenda Rodeio, Nhecolândia, em Corumbá, em Mato Grosso do Sul. Essa região de planície é um dos primeiros centros criatórios de bovinos pós-Guerra do Paraguai.
Nesse encontro dos pantaneiros, foi inaugurado um monumento aos pioneiros com a seguinte frase do pecuarista e escritor Gabriel Vandôni de Barros, o Doutor Gabi: “Destes campos partiu o esforço mais vigoroso e perseverante pelo desenvolvimento da pecuária mato-grossense. E ao surgir a expansão do criatório para o extremo Norte de Mato Grosso e toda a região amazônica, é sobretudo na Nhecolândia que os novos pioneiros vieram encontrar as matrizes, já com alto índice de aprimoramento genético, para a multiplicação dos rebanhos brasileiros”.
O homem pantaneiro adaptou-se às condições excepcionais do Pantanal, enfrentando seca e cheia, tal qual a raça rustica do cavalo pantaneiro, e hoje questiona-se a perda da cultura e êxodo rural com as mudanças introduzidas por fazendeiros de fora do bioma. Corumbá é o município que detém 44% do território do ecossistema brasileiro.
Sustentabilidade
O homem está ali há pelo menos 250 anos, vivendo em harmonia com a natureza. O primeiro registro oficial de atividade pecuária data de 1737, fato que deveria ter conduzido o Pantanal a se tornar uma área com marcante ação antrópica, observa Urbano Gomes, pesquisador da Embrapa Pantanal. “Então, como explicar uma região, a maior planície inundável da terra, ocupada com atividade econômica há quase 300 anos, possa ser considerada o ecossistema mais conservado do Brasil?”, questiona ele.
Sua explicação: “a resposta envolve vários aspectos, sociais, ambientais e econômicos, importantes, se considerarmos uma tendência de correlação negativa entre pobreza e desequilíbrio ecológico, ou seja, quanto maior a pobreza de determinada região maior a pressão sobre os recursos naturais de maneira geral. A pecuária de corte enriqueceu e conservou o Pantanal. Assim sendo, a meta de conservação do Pantanal passa, necessariamente, pelo fortalecimento da bovinocultura tradicional dessa região. A sustentabilidade desta atividade econômica garante a conservação da região.”
De acordo com o mapa de cobertura vegetal dos biomas do Brasil realizado pelo Ministério de Meio Ambiente (MMA), o Pantanal é considerado o ecossistema mais conservado do Brasil, com a maior percentagem de cobertura vegetal nativa (86,8%) e menor área com ação antrópica (11,5 %). Entretanto, praticamente 95% da região é constituída de propriedades privadas, das quais, 80% da área é utilizada para bovinocultura de corte.
Comitiva pantaneira
A cultura do homem pantaneiro foi um dos destaques na 46ª ABAV Expo Internacional de Turismo e 50º Encontro Comercial Braztoa, maior evento do setor de viagens e turismo do Brasil, que ocorreu no Anhembi, em São Paulo. Foi lançada, na oportunidade, um novo roteiro turístico em Mato Grosso do Sul, a Comitiva Pantaneira, onde o visitante conhecerá a atividade vivenciando experiências, conhecendo a lida com o gado, a gastronomia local, entre outros.
O Estado, que tem fama de hospitaleiro, é muito rico culturalmente porque tem muita influência de países latinos e traz isso para as manifestações culturais e para a gastronomia. São diversos roteiros pelas fazendas da região, com jornadas de 8 horas por dia. No período da noite, ocorrem rodadas de tereré, o erva-mate gelado da região, semelhante a um chimarrão. Há trajetos de 25 minutos seguindo o gado de Aquidauana a Miranda.
Silvio Andrade – Subsecretaria de Comunicação, com informações da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav)