Neste 13 de dezembro de 2024, faz 40 anos da morte de Conceição dos Bugres, uma das figuras mais emblemáticas da arte sul-mato-grossense e brasileira. Conceição Freitas da Silva, nascida em Santiago, Rio Grande do Sul, em 1914, e falecida em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em 1984, deixou um legado cultural que transcende gerações, consolidando os icônicos bugres como símbolos de identidade e resistência cultural.
O músico e jornalista Rodrigo Teixeira, no livro Vozes do Artesanato (FCMS/2011) fala sobre a trajetória da artista: “Os ‘descobridores’ e primeiros divulgadores de Conceição são justamente o artista plástico Humberto Espíndola e a escritora, crítica de arte e produtora cultural, Aline Figueiredo, fundadores da AMA. Foram eles que deram palpites estéticos e práticos para que Conceição aprimorasse seus bugres. Tanto que as três primeiras exposições da escultora, entre 1970 e 1971, foram organizadas pela AMA”.
“O modo com que surgiu o bugre da Conceição é envolto em misticismo. Assim como a própria história do desenvolvimento do artefato. No entanto, no livro ‘Artes Plásticas no Centro-Oeste’, de Aline Figueiredo, publicado em 1979, a escultora dá a sua própria versão em uma rara entrevista realizada pela autora no ano de 1974. ‘Um dia, me pus sentada embaixo de uma árvore. Perto de mim tinha uma cepa de mandioca. A cepa de mandioca tinha cara de gente. Pensei em fazer uma pessoa e fiz. Aí a mandioca foi secando e foi ficando parecida com uma cara de velha. Gostei muito, depois eu passei para a madeira’”, escreve Rodrigo Teixeira, no livro Vozes do Artesanato.
Ainda na mesma publicação, segundo Teixeira, Conceição produziu centenas de bugres e nas décadas de 1970 e 1980 tinha uma demanda grande de pedidos. Apesar de vender praticamente tudo que produzia, a escultora nunca conseguiu deixar de levar uma vida modesta. O dinheiro que ganhava com a venda dos bugres ficava todo na família mesmo, com os filhos e o marido. Por muitos anos residiu em uma casa modesta no Bairro Universitário, em Campo Grande. Jamais imaginaria que seus bugres seriam utilizados em publicidades, estampas e recriados das mais diversas maneiras, uma espécie de domínio público sobre a obra”.
Mariano Antunes Cabral Silva, o neto de Conceição e quem continuou seu trabalho, explicou que os bugres surgiram devido a um sonho de Conceição. “Ela sonhou com os bugres e depois começou a esculpir com rama de mandioca, que foi substituída por madeira para evitar apodrecimento”. Mariano ajuda sua avó com as esculturas desde os oito anos.
Hoje, com 58 anos, é o único continuador da arte de Conceição dos Bugres. “Minha vó me falava: ‘Mariano, eu estou já de idade, você vai me olhando trabalhar, a hora que eu me for você vai ter que continuar isso daí’”.
“Eu ia sempre na casa da minha avó para aprender. Passava lá e acabava pousando por lá. Hoje tenho os bugrinhos na Casa do Artesão. Os preços variam de 50 a 300 reais, dependendo do tamanho. Também aceito encomendas e muitos dos bugrinhos que fiz estão espalhados pelo mundo”, diz Mariano, orgulhoso.
Mariano sempre é convidado para ministrar oficinas para ensinar a fazer os bugrinhos em escolas e festivais. “Fico muito contente quando me convidam. Nestes momentos converso com todo mundo e conto a história da minha avó e a minha. Com 8 anos eu já ajudava a minha avó a fazer os bugrinhos. Ela pegava a madeira para fazê-los no mato, hoje eu compro a madeira do tamanho que o cliente quer”, comentou Mariano Neto.
“Artesanato para mim é uma bênção. Fico emocionado com os bugres da minha avó, parece que ela está aqui olhando eu fazer. Só faço quando estou inspirado. Se Deus quiser vou fazer pro resto da vida”.