Representantes do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) e da Polícia Militar Ambiental (PMA/MS) participaram nesta quarta-feira (31) da apresentação oficial do livro “Pesca Amadora no Brasil – Panorama sobre estudos, políticas públicas e desafios de gestão”, publicação do Governo Federal com apoio da Embrapa. A entrega realizada no Instituto, teve como foco o capítulo dedicado ao Pantanal sul-mato-grossense.
Organizado em 18 capítulos e assinado por 56 autores, o livro apresenta um panorama nacional da pesca amadora, reunindo informações científicas, diagnósticos ambientais e propostas de políticas públicas voltadas à gestão sustentável da atividade.
O capítulo “A pesca amadora no Pantanal de Mato Grosso do Sul”, elaborado pelos pesquisadores Agostinho Catella, Fânia Campos e Selene Albuquerque, foi o ponto central da apresentação, trazendo dados consolidados do Sistema de Controle da Pesca de Mato Grosso do Sul (SCPESCA/MS), em operação há mais de duas décadas.
Panorama da pesca no Pantanal
O estudo mostra que a pesca amadora na região atinge seu pico entre os meses de julho e outubro, período que concentra cerca de 78% das atividades registradas. O levantamento identificou a sub-bacia do rio Paraguai como o principal destino dos pescadores (55,3%), seguida pelos rios Miranda (25,6%), Aquidauana (4,6%) e Taquari (4,6%).
Entre 2006 e 2018, o rendimento médio das pescarias permaneceu estável, variando entre 11 e 13 quilos por pescador por viagem. O estudo também destaca a predominância das espécies migratórias de piracema, reforçando a importância das regras de defeso para garantir a reprodução e a manutenção dos estoques pesqueiros.
Desafios para a gestão da atividade
O capítulo também discute os principais desafios da gestão pesqueira, como os impactos da política da “cota zero”, as pressões exercidas pelo turismo de pesca e os efeitos de fatores externos, como alterações hidrológicas e mudanças climáticas.
Outro ponto relevante foi a apresentação do zoneamento das sub-bacias da Bacia do Alto Paraguai, conduzido pela Agência Nacional de Águas (ANA), que mapeou áreas com e sem conflitos de uso entre pesca e turismo. O livro mostra zonas críticas de conflito ambiental e zonas de baixo impacto sobre os estoques pesqueiros.
Importância do estudo para políticas públicas
Para o pesquisador Agostinho Carlos Catella, da Embrapa Pantanal, o estudo oferece um retrato profundo da pesca amadora no Pantanal, com dados que permitem compreender as tendências biológicas e socioeconômicas da atividade.
“É um material valioso para gestores públicos, que podem embasar decisões com base em evidências. Também é útil para empresários do turismo de pesca, ao apresentar dados sobre o perfil dos pescadores e preferências regionais. E para o cidadão comum, ajuda a entender a importância ecológica e cultural dessa atividade”, afirmou.
Catella também destacou a relevância social dos diferentes usuários dos recursos pesqueiros: “Temos pescadores amadores, profissionais artesanais, de subsistência e até aquicultores que dependem das espécies nativas como matrizes. Quanto mais setores estiverem engajados na conservação, maior será a força coletiva para proteger os ambientes aquáticos, as rotas migratórias e garantir os recursos para as futuras gerações”, completou.
Para o diretor-presidente do Imasul, André Borges, a publicação reforça o papel da ciência na gestão pública e contribui diretamente para a proteção dos recursos naturais de Mato Grosso do Sul. “Este livro é uma conquista para o Estado e para o país. Ele traduz, em dados e análises, o esforço coletivo de pesquisadores, técnicos e instituições que, ao longo de décadas, trabalharam para entender e proteger nossos recursos pesqueiros. É uma ferramenta estratégica para orientar políticas públicas sustentáveis e garantir que a pesca amadora continue sendo uma atividade viável, equilibrada e responsável”, afirmou.
Trabalho técnico de longo prazo
A bióloga e fiscal ambiental do Imasul, Fânia Campos, ressaltou que o livro é fruto de parcerias entre as instituições e um importante instrumento de gestão pública.
“O livro traz dados valiosos sobre a pesca amadora no Brasil e, especialmente, em Mato Grosso do Sul. É uma grande satisfação ver esse trabalho publicado. O capítulo foi escrito em 2022, com base em dados de 1994 a 2018, e passou por todo o processo editorial até ser lançado em 2025. É um trabalho feito com muita seriedade e profundidade”, destacou.
Tecnologia e modernização do SCPESCA/MS
Durante a reunião, também foram apresentados os avanços tecnológicos incorporados ao SCPESCA/MS, sistema estadual de controle da pesca. Em operação desde 1994, o sistema vem sendo modernizado com o uso de aplicativos móveis, integração com bancos de dados estaduais e disponibilização de informações públicas para gestores, pesquisadores e sociedade civil.
PMA valoriza reconhecimento institucional
Representantes da Polícia Militar Ambiental também participaram da apresentação e destacaram a importância da publicação como reconhecimento institucional. O tenente-coronel Diego da Silva Ferreira Rosa, comandante do 1º Batalhão da PMA, celebrou a consolidação do trabalho técnico:
“Esse livro eterniza o trabalho da Polícia Militar Ambiental na proteção dos nossos recursos pesqueiros. Ele também valoriza os órgãos de pesquisa, que têm papel fundamental no embasamento de ações e políticas públicas”, afirmou.
O capitão Jorge Manuel Martins Jr., comandante da 2ª Companhia de Polícia Ambiental de Corumbá e do 2º Pelotão de Miranda, também elogiou a iniciativa:
“É um material que só vem para enriquecer nosso trabalho, com informações integradas sobre a ictiofauna da Bacia do Paraguai. Nós, que estamos na linha de frente da fiscalização, valorizamos muito esse tipo de conhecimento técnico”, concluiu.
Publicação nacional de referência
Publicado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, com apoio da Secretaria Nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais, o livro “Pesca Amadora no Brasil” integra o plano federal de reconstrução ambiental e valorização do conhecimento técnico para o uso sustentável dos recursos naturais. A obra se consolida como uma referência nacional para a conservação da ictiofauna e para o aprimoramento das políticas públicas de pesca no país.
Gustavo Escobar, Comunicação Imasul