Ao lado de fora do teatro, artistas circenses recebiam o público. Os mestres de cerimônia Alzira e Teteia animaram a noite e deram a palavra aos homenageados. O ator e diretor Espedito Di Montebranco disse ser um imenso prazer estar ali, e que o teatro, para ele, é mais que profissão, é necessidade. “Em 1.995 assumi o Grupo Palco. Quero agradecer a todas as pessoas que passaram por esse grupo e a todas as pessoas que acreditam no fazer teatral, às autoridades que acreditam no potencial do teatro sul-mato-grossense. Agradeço às pessoas que saíram de suas casas e hoje estamos vendo o teatro cheio. Obrigado”.
O ator e diretor teatral Edilton Ramos, homenageado pelos seus 59 anos de trabalho, disse que começou a fazer teatro na década de 1.970, e quando começou, existia a censura proibitiva. “Tivemos textos que foram proibidos. O texto era mandado para Brasília e vinha cheio de cortes. A gente tinha que representar o texto na íntegra para a Polícia Federal. Fiz várias vezes isso aqui neste teatro. Fazer teatro não é fácil. Estou nessa vida e não me arrependo. Precisaria de uma noite inteira para contar minha trajetória, mas hoje faço um resumo em duas palavras: muito obrigado! Obrigado para todos que foram assistir as minhas peças. Agradeço à Secretaria de Cultura e Cidadania, temos tido diálogo. Que nosso Estado se transforme num celeiro do teatro no nosso país”.
O mágico Tabajara, homenageado por seus 70 anos de carreira, não pode estar presente, por se encontrar em viagem para o Amapá. Foi representado por sua filha, Layana Araújo da Silva, que leu uma declaração feita por seu pai. “É com grande satisfação que venho hoje representado pela minha filha Layana. Agradeço imensamente pelo carinho, ao secretário de Cultura e Cidadania, Athayde Nery, e a todos os artistas presentes”.
Layana está no último ano do ensino médio, e pretende aliar sua carreira de advogada e delegada da PRF aos números de mágica. “Fazer mágica tem que ter técnica, rapidez e uma rotina de ensaios”. Ela apresentou dois números de mágica nesta noite de abertura do Boca de Cena. Lembrou da carreira do pai, que teve seu auge em 1.984, quando foi ao Show da Xuxa, aos programas do Sílvio Santos e do Gugu. “Meu pai viajou pelo Brasil e pelo mundo, visitou 12 países. Ele ficou muito feliz por ter seu trabalho reconhecido e bem contente por representar Mato Grosso do Sul”.
Integrante do Colegiado Setorial do Teatro, a atriz Fernanda Kunzler declarou ter imenso prazer em estar novamente participando do Boca de Cena. “A Mostra de Teatro é organizada pelos artistas do Colegiado, que se organizaram e começamos a realizar a princípio, sozinhos, depois ao lado do Governo do Estado. Este é um momento muito importante para nós, construir uma semana com espetáculos, oficinas, proporcionar intercâmbio com artistas de Mato Grosso do Sul, do Brasil e do exterior. É uma oportunidade de mostrar à sociedade o que se tem produzido no Estado. Agradeço ao Governo do Estado. A gente vem sofrendo um esfacelamento da cultura no país e aqui não tem sido diferente. Sociedade, ajude-nos a cobrar o que é nosso direito, para que nossa sociedade seja mais humana. Viva a cultura!”
O secretário de Cultura e Cidadania, Athayde Nery, agradeceu a presença das escolas participantes do Boca de Cena. “Agradeço às escolas Padre José Scampini, Elvira Matias de Oliveira, Armando de Oliveira, às escolas de Campo Grande que vieram e às de Ribas do Rio Pardo: Escola João Ponce de Arruda e Escola Eduardo Amorim. É importante os estudantes estarem aqui. Agradeço à Soraia Ferreira e ao Márcio Veiga, da Fundação de Cultura, que junto com o Colegiado ajudaram a fazer o Boca de Cena. Quero parabenizar ao Edilton Ramos, ao mágico Tabajara e ao Espedito Di Montebranco, do Grupo Palco, homenageados desta noite. O deputado estadual Rinaldo Modesto está aqui porque estamos mandando o Plano Estadual de Cultura para a Assembleia. Queremos garantir um e meio por cento do orçamento para a Cultura. Venho aqui fazer um compromisso público com a cultura. A secretária de Educação, Maria Cecília Amêndola da Motta, está nos ajudando a fazer esta ponte da Cultura com a Educação. Viva o teatro, vivam os estudantes e viva a cultura!”
Logo após as homenagens e discursos, foi a vez do Grupo Palco entrar em cena com o monólogo encenado por Espedito Di Montebranco, “Pobre Diabo Louco e seu Discurso para Moscas”. O grupo foi homenageado pelos seus 25 anos de trabalhos ininterruptos na cena teatral de MS e para isso foi convidado a apresentar o espetáculo Pobre Diabo Louco que completou 20 anos de estrada sendo a segunda montagem.
O espetáculo, considerado por muitos como uma crítica política, narra os problemas enfrentados no Estado de Mato Grosso do Sul e no Brasil, contando a história de Praculá Makob, um indigente que anda perdido pelo País com o sonho de chegar ao Distrito Federal e falar com o presidente da República. Assim, caminha de cidade em cidade e em cada uma delas que chega pergunta: Pra que lado fica o Distrito Federal? E as pessoas respondem: Praculá.
Makob, foi o sobrenome que lhe deram, pois segundo a Bíblia, significa dor e sofrimento e foi o que viram nesse mendigo perdido, nesse “Pobre Diabo Louco e seu Discurso para Moscas“, que a maioria pensa tratar-se de um louco, um doente mental e não percebem que esse é o verdadeiro cidadão, que critica e apresenta possíveis soluções para esse Brasil sofredor.
O Espetáculo tem dramaturgia, cenografia, desenho de luz, criação de sonoplastia, direção e atuação de Espedito Di Montebranco, Operação de Iluminação de Stepheen Abrego e operação de sonoplastia de Claudeir Dilly. Apoio de Jurema de Castro e Bruno Moser.
O Grupo Teatral Palco/Sociedade Dramática nasceu há 25 anos em Campo Grande, e em 2012 recebeu menção Honrosa da Assembleia Legislativa de MS por serviços culturais prestados ao Estado de MS.
Foi fundado em 1.992 por Marcos Alexandre de Mello e em 1.995 passou à coordenação de Espedito Di Montebranco. Em 2010 o coletivo resolveu acrescentar a denominação “Sociedade Dramática”, em homenagem ao primeiro Grupo Teatral da cidade de Corumbá, criado por jovens estudantes e moças da sociedade em 1920.
Dentre as várias marcas do grupo, destaca-se a acidez dos temas, a crítica social como elemento fundamental para a transformação da sociedade e a compreensão dos temas abordados. O constante trabalho de pesquisa em dramaturgia, direção, atuação e encenação são vividos a cada nova construção de espetáculo.
O Boca de Cena – Mostra Sul-Mato-Grossense de Teatro e Circo 2017 vai até sábado, 27 de maio, com quinze apresentações teatrais gratuitas, seminários, diálogos cênicos e oficinas diversas. Confira a programação.
Karina Lima – Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS)
Fotos: Álvaro Herculano