Campo Grande (MS)- Já imaginou a possibilidade de desviar a rota de um cometa que possua água em qualquer estado da matéria, para que ele colida com o planeta Marte e, assim, poder colonizá-lo? Bruno Monobu Kayano, de 16 anos, imaginou. Uma matéria da revista Planeta Sustentável despertou-o a desenvolver uma pesquisa em busca de água potável. Kayano é um entre os quase 500 estudantes que estão apresentando trabalhos na Feira de Tecnologias, Engenharias e Ciências de Mato Grosso do Sul (Fetec) que acontece esta semana no Ginásio Moreninho, em Campo Grande.
O aluno do 2º ano do ensino médio da Escola Estadual Coração de Maria, na Capital, integra o Núcleo de Altas Habilidades/Superdotação. Ele participa do evento pela primeira vez e ficou surpreso com o que encontrou. “Estou impressionado em ver quantas mentes brilhantes existem em nosso Estado”, comentou Kayano.
No seleto grupo de jovens ávidos por conhecimento, pode-se encontrar projetos mais aplicáveis como o de Eder Daniel Ogeda Mesa, do Instituto Federal de Ponta Porã, que desenvolveu um equipamento de baixo custo para monitorar a qualidade da água. Ao participar de uma pesquisa que analisava o P.H e a condutividade em amostras de água dos poços na comunidade de Sanga Puitã, um distrito do município fronteiriço, o estudante observou que o trabalho era muito demorado, por ter que colher o material e levá-lo a um laboratório para ser analisado em quatro aparelhos, que custam R$ 6,8 mil.
Ogeda, então, resolveu desenvolver um único equipamento para fazer o mesmo trabalho a um custo 29 vezes menor e que, ainda, pode ser levado ao local de coleta, o que diminuiu muito o tempo de resposta. Além do aparelho que custou R$ 233,00, o aluno recém-formado no ensino médio, desenvolveu também o programa para computador e celular que faz a leitura dos dados. O projeto demorou um ano para ser desenvolvido.
O plano agora é aperfeiçoar o aparelho para “medir o padrão da água e de qualquer líquido”, explica Eder. Ele já foi selecionado para participar da Febrace - principal feira de ciências e engenharia do Brasil, realizada pela USP- em 2016.
A criação de ferramenta que propicie retorno econômico instigou os jovens David Robledo Di Martini, 17, e Estevão Tonello Pereira, 16, matriculados no 6º e 1º ano do curso de Eletrotécnica do Instituto Federal, em Campo Grande, a projetar um drone capaz de filmar por baixo das folhas de cultivares como a soja, para detectar o aparecimento de pragas.
A iniciativa pretende diminuir o custo e o tempo de análise das plantações para os produtores. Este é apenas o começo para a dupla que pretende trilhar o caminho empresarial. O desenvolvimento de um veiculo aéreo não tripulado para oceanografia já está nos planos dos jovens inventores.
O trabalho dos rapazes despertou a atenção de Nehemias Lacerda, diretor científico da Femto, empresa especializada em concepção de soluções e inovação tecnológica por meio de modelamento matemático e simulação computacional, para criação de produtos e processos industriais ainda não existentes.
Lacerda visita feiras em busca de estudantes com capacidade de resolver problemas e os incentiva a fazer graduação, mestrado e doutorado “para que daqui a 10 anos eles possam resolver problemas para as empresas”, explica.
Segundo ele, “os jovens sul-mato-grossenses tem potencial para competir em igualdade ou superioridade com estudantes de qualquer lugar do mundo”.
Alto nível
Para a Fetec 2015 foram selecionados 153 projetos de 32 escolas, sendo 13 estaduais, 10 municipais, sete particulares e duas instituições públicas. Além de Campo Grande, participam alunos de Aquidauana, Bandeirantes, Corumbá, Coxim, Dourados, Nova Alvorada do Sul, Nova Andradina, Ponta Porã e Ladário. Entre os participantes, seis trabalhos serão escolhidos para representar Mato Grosso do Sul na Febrace.
“Em relação ao ano passado, houve participação maior das escolas estaduais e o nível dos trabalhos aumentou muito”, comemora o organizador da Fetec, Ivo Leite, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Fernanda Sato, diretora da Intel Education, que organiza a delegação brasileira para a Intel ISEF (International Science and Engineering Fair), maior feira internacional para jovens cientistas, concorda: “esta é uma feira muito bem qualificada”. Sato destaca que “existe um compromisso com a educação” e segundo ela, “recebe jovens mais bem preparados que nos outros Estados”.
Luciana Gabas, da Assessoria de Comunicação da Fundect