Campo Grande (MS) - Uma parceria entre a Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul (Funtrab), Ministério Público do Trabalho (MPT) e empresas privadas está contribuindo para inserir os índios do Estado no mercado de trabalho. A previsão é de que, por ano, cerca de 2 mil terenas e guaranis sejam contratados para trabalhar nas safras, principalmente de frutas. Levando-se em consideração que cada família indígena é composto por 5 pessoas, cerca de 10 mil pessoas serão beneficiadas por essa iniciativa.
Graças a essa união de esforços, mais de 500 indígenas terena e guarani trabalharam, neste ano, na colheita de maçã nas lavouras da empresa Aliprandini, com sede em Vacaria, Rio Grande do Sul. A empresa é detentora da marca Frutini, e fornece frutas e legumes para praticamente todo o Brasil. Por ano, são colhidas aproximadamente 20 mil toneladas de maçã.
“Eles nunca tiveram essa oportunidade e estão contentes. Afinal de contas, não é fácil arranjar uma colocação assim”, comenta José Alberto Thiery, coordenador da unidade da Funtrab em Dourados. A Fundação é a responsável pela seleção da mão de obra e da elaboração dos contratos entre índios e empresas.
Para o procurador do Trabalho, Jeferson Pereira, que participou da formalização dessa parceria, milhares de indígenas de Mato Grosso do Sul devem ser beneficiados com a articulação entre o MPT, Governo do Estado e iniciativa privada. “A participação da Funtrab é fundamental, uma vez que garante que os trabalhadores saiam do Estado protegidos pelos contratos e sabendo quanto irão receber pelo serviço”, afirmou.
O procurador enfatizou que “essa estratégia é fruto dos entendimentos realizados junto a empresas como a Rasip, Agrícola Fraiburgo e Fischer, que concordaram com essa forma de contratação, elevando a quantidade de trabalhadores indígenas empregados anualmente para mais de 2 mil”.
Essa parceria estabelece que, além do salário, as empresas forneçam para os indígenas transporte, hospedagem e alimentação. No caso da Aliprandini, por exemplo, em valores de fevereiro, cada índio contratado recebeu R$ 1.175,00 de salário-base mais os acréscimos referentes à produtividade e horas extras. “Cada um tem uma meta. Atingindo a meta e com as horas extras alguns chegaram a dobrar o salário”, comentou Nilson Bossardi, funcionário da empresa responsável pelo recrutamento.
Bossardi explica que mão-de-obra para esse serviço na região é difícil e ele enfatiza que outra vantagem dessa parceria, é que a contratação é feita por grupos, embora os contratos sejam individuais - no total a Aliprandini contratou neste ano 540 terenas e guaranis, mas divididos em turmas. E a integração tem sido também muito positiva, a ponto da empresa realizar campeonato de futebol entre os indígenas, com direito e troféu.
“A gente precisa muito desse apoio para as nossas famílias”, afirma o terena Ivanilson Machado Peixoto, da Aldeia Limão Verde, em Aquidauana. Pai de três filhos, ele diz que nesta safra 46 moradores da aldeia foram trabalhar na colheita da maçã nas lavouras da Aliprandini.
Peixoto explica que durante o ano os moradores da Limão Verde se dedicam a lavoura própria e, no período da safra da empresa de Vacaria, aproveitam para ganhar uma renda extra. O dinheiro conquistado é investido principalmente na melhoria da habitação, compra de roupas para os filhos, aquisição de animais para cria e insumos para a lavoura. Ele lembra que antes dessa parceria, os terenas viviam sem emprego, pois a partir de 2008 as usinas de cana-de-açúcar deixaram de abrir vagas para indígenas. Em média, eles trabalham de dois a três meses na colheita de frutas na região Sul do país.
A ação segue a orientação dada pelo governador Reinaldo Azambuja. “As comunidades indígenas precisam ser melhor atendidas, precisam do apoio do governo, com uma política pública duradoura, para todas as etnias. O governo não tem que ter lado, deve governar para todos”, tem afirmado Reinaldo Azambuja.
E como parte dessa política, no dia 29 de maio, o Comitê Gestor Estadual para Erradicação do Sub-registro Civil de Nascimento e Acesso à Documentação Básica (CEESRAD/MS) estará na região Sul para atender a comunidade indígena dos municípios de Amambai, Aral Moreira, Coronel Sapucaia e Japorã. Serão emitidos 500 documentos de Registro Geral (RG). A falta de documento é um dos problemas enfrentados pelos índios na busca de uma colocação no mercado de trabalho. Essa ação é coordenada pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho (Sedhast).
Paulo Yafusso - Subsecretaria de Comunicação (Subcom)
Foto capa: Lauro Alves / Agência RBS