Em seu primeiro gesto de solidariedade como mães, doadoras recebem semanalmente a visita e o suporte da equipe do Hospital Regional, administrado pelo Governo do Estado.
Campo Grande (MS) - Dividir o alimento de seus filhos com bebês prematuros e hospitalizados é o primeiro gesto de solidariedade das mães doadoras de leite. Para que possam ajudar outras mães, elas contam com o apoio do Governo do Estado, presente diariamente nas casas das mulheres cadastradas para recolher as doações.
“Se fosse para eu levar o leite não conseguiria doar, porque é muito difícil eu sair com a bebê”, explica a assistente social e mãe Vanessa Nunes de Matos, 34 anos, sobre o suporte recebido do Estado. Doadora dos bancos de leite dos hospitais Universitário e Regional, ela decidiu ajudar após a sobrinha bebê ficar doente, há dois anos, e precisar de leite. “Acompanhei de perto e sei que é muito sofrimento, a gente se coloca no lugar”, conta.
Quando ficou grávida, Vanessa não pensou duas vezes e procurou os hospitais para ser doadora. Recebeu a visita da equipe especializada do Hospital Regional, orientação para a coleta e a partir daí as visitas semanais para recolhimento do leite. Ela destaca que as doações nunca atrapalharam a alimentação da filha Rebeca - que amanhã completa dois meses de vida. “Às vezes, ela até afoga porque tem bastante leite, então, antes de amamentar já retiro o da doação”, explica.
Sobre o trabalho de separar o leite três vezes ao dia, principalmente nas madrugadas, Vanessa diz não ser nada perto do efeito que isso tem para as mães cujos filhos dependem de terceiros. Em alguns casos, os bebês são intolerantes às fórmulas artificiais e só podem ser alimentados com o leite materno. “Você sabe que está salvando vidas”, comemora.
Para Aline Salgado (foto capa), de 22 anos, chega a ser desperdício jogar leite materno fora sabendo que tantas crianças precisam desse alimento, cuja qualidade é insubstituível. Mãe de Emannuely, com dois meses de vida, ela conta que na maternidade viu de perto essa necessidade. “A mãe que estava ao meu lado não estava conseguindo amamentar e o bebê com fome chorava muito”, conta. Na avaliação dela, “todo mundo que pode deveria fazer a doação”.
Iniciativa
Sem doadores na família, a esteticista Gleice Kelli Peralta da Silva, de 28 anos, diz que sempre teve vontade de ajudar. Ao se tornar mãe, pesquisou na internet como poderia fazer isso e encontrou acolhimento no Hospital Regional. “Veio uma profissional em casa, trouxe touca, máscara e o vidro para recolher. Ela ensina como deve ser armazenado e toda semana vem buscar o leite”, detalha.
Gleice destaca a importância da contribuição, principalmente, porque as crianças que utilizam o banco de leite tem a saúde debilitada e precisam dele para se recuperar. “Doar o leite materno é divino mesmo, quanto mais você dá, mais recebe. Quando mais eu tiro, mais tenho para o meu filho”, diz.
Demanda
Responsável técnica pelo banco de leite do Hospital Regional, a nutricionista Fernanda Menezes, de 39 anos, conta que atualmente estão cadastradas cerca de 40 doadoras e são coletados em torno de 50 litros por mês. Para atender à demanda, seriam necessários 150 litros.
“Quando o leite do banco não é suficiente, priorizamos os menores e os casos mais graves”, explica. Nesse caso, os bebês com saúde mais estável e próximos de receber alta recebem o leite artificial. O problema é que nem todos podem ser alimentados dessa forma. “Muitos bebês tem intolerância à fórmula do leite artificial, outros desenvolvem alergia, infecção”, detalha. Nesse caso, o único alimento possível é o leite materno.
Conforme a nutricionista, o número de bebês internados precisando de doações varia, podendo ultrapassar 35. A dieta deles é calculada conforme o peso e os maiores chegam a consumir 500ml de leite por dia. No caso dos prematuros, a quantidade diária é menor, iniciando em 8ml/dia.
Em contato diário com as mães dos bebês internados, Fernanda destaca a tristeza daquelas que não conseguem produzir o leite necessário para os filhos. Em muitos casos, a produção diminui em virtude do estresse decorrente da saúde debilitada das crianças. “O leite doado representa para essas mães a chance dos bebês delas se recuperarem mais rápido e irem logo para casa”, diz.
Serviço
Para se tornarem doadoras, as mães interessadas devem entrar em contato com o Hospital Regional pelo telefone (67) 3378-2715. Primeiro é feito um pré-cadastro em que são verificados dados como endereço e data do parto. Na primeira visita da equipe, a técnica em banco de leite irá solicitar a sorologia do pré-natal e comparar os resultados com as normas da rede do banco de leite. Caso seja aprovada, a mãe já terá seu endereço incluído na rota para recolhimento do leite. Em geral, as exigências para ser doadora são comprovação do acompanhamento pré-natal e que a mãe esteja amamentando seu bebê.
Danúbia Burema – Subsecretaria de Comunicação (Subcom)
Fotos: Arquivos Pessoais