Em Brasília, Reinaldo Azambuja e o prefeito da Capital, Marquinhos Trad, vão discutir com a bancada federal emendas ao Orçamento da União.
Campo Grande (MS) - Na próxima semana o governador Reinaldo Azambuja vai se reunir com o presidente eleito Jair Bolsonaro, para discutir a questão da fronteira. Há tempos ele defende a presença efetiva das forças federais nas fronteiras com o Paraguai e a Bolívia e a “blindagem” dessa região como estratégia de combate à criminalidade nos grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo.
Também após o feriado, Azambuja e o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad, estarão em Brasília discutindo com a bancada federal de Mato Grosso do Sul emendas ao Orçamento da União. Segundo o governador, é preciso destravar alguns projetos que estão em Brasília à espera de liberação de recursos. Esses e outros assuntos, como a campanha eleitoral, a eleição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa e a obra do Aquário do Pantanal, foram assuntos abordados por Reinaldo Azambuja na entrevista concedida aos jornalistas do programa Boca do Povo, na rádio Difusora Pantanal na manhã desta terça-feira (30.10). Confira trechos da entrevista.
A Campanha
Confiança no trabalho, realizamos um Governo num momento difícil do País, de crise, dificuldade, muita intolerância com a política, muita criminalização da atividade política. Eu sempre falava, o delator não é o dono da verdade, muitas vezes, ele está falando mal de alguém para tentar se livrar dos crimes que ele cometeu e as verdades começaram a ser restabelecidas, mas sempre tive confiança porque eu via assim, um Governo que entregou muito, que está presente, embora não tenhamos consolidado a regionalização da saúde, mas ela aconteceu em muitos lugares, obras nos 79 municípios, então eu tinha muita confiança de que a população entenderia da importância de continuar com o nosso mandato, e com segurança, porque quando você elege alguém você precisa ter a segurança de que essa pessoa vai constituir uma equipe e vai dar conta de governar, não tem salvador da pátria, não tem milagre em administração, então sempre confiei e confiei muito em Deus, principalmente nos momentos mais difíceis da nossa família, daquela ação da polícia, desnecessária, midiática, vazada para a imprensa, muito estranho aquilo há 15 dias das eleições e, mesmo assim, a gente teve a força e o apoio da população. Então, pelo cenário vivido da política, acho que fomos, como o próprio governador de São Paulo disse: "Nós, Reinaldo, somos sobreviventes"; o Dória [João Dória, governador eleito de São Paulo] me ligou ontem e falou: eu sobrevivi aqui em São Paulo porque renunciei à Prefeitura e você sobreviveu aí a algo midiático que tentou te prejudicar. Mas a população deu um voto de confiança e isso redobra a nossa responsabilidade de continuar trabalhando.
Cumprimento dos compromissos de campanha
Os compromissos de 2014, se você olhar todos os compromissos que estão registrados no Tribunal Eleitoral, posso dizer que vamos concluir 2018 com 80% executados. Não deu para fazer tudo, a gente reconhece isso. O que não deu para consolidar? As entregas de todos os hospitais, esse é um exemplo, o de Três Lagoas vai ficar pronto em maio do ano que vem, Santa Casa de Corumbá o dinheiro está na conta, mas as obras estão começando agora, hospital de Câncer daqui vamos concluir, então, essa regionalização da saúde não deu para concluir e algumas coisas a crise atrapalhou, porque a gente não esperava governar na pior crise da história do Brasil. Mas vejo um horizonte muito melhor. Fizemos poucas promessas, mas temos muitos compromissos e esses compromissos com Mato Grosso do Sul a gente vai levar como obrigação do nosso Governo, de cumprimento dessas metas estabelecidas na saúde, na educação, na segurança. Estou indo semana que vem conversar com o presidente eleito [Jair Bolsonaro] sobre a fronteira, vamos cuidar da fronteira, está tendo muita briga das facções.
Mudança no secretariado
Sou muito grato a nossa equipe, sou muito grato aos servidores públicos pela compreensão. Agora, o novo governo é um novo governo, então, vai ter algumas mudanças? Claro, isso é necessário para gente poder oxigenar algumas políticas públicas, temos que ver onde avançou bem, onde não avançou, os resultados dos contratos de gestão, e todos aqueles que contribuíram foram extremamente importantes, ninguém governa sozinho, o resultado da aprovação do Governo é o conjunto de todos, todos trabalharam. A gente vai fazer poucas, não são muitas as mudanças, mas algumas serão a partir de primeiro de janeiro. Não temos isso definido ainda, porque precisamos olhar quais as reformas que o presidente eleito vai fazer, porque tem muita coisa que acontece em Brasília que reflete em Mato Grosso do Sul. Por exemplo, a reforma tributária, eles vão encaminhar mesmo, e de que forma virá. É para criar o IVA [Imposto de Valor Agregado] e acabar com o ICMS que é uma legislação maluca, que cria essa guerra fiscal; previdência, vi hoje de manhã que ele disse que vai ter uma reunião com o Temer para tentar fazer parte da reforma previdenciária ainda neste ano.
São avanços que a gente precisa olhar que refletem no Mato Grosso do Sul. Lei Kandir. Lei Kandir está para ser definida pelo Congresso Nacional porque o Supremo Tribunal Federal exigiu que o Congresso legisle sobre o ressarcimento aos estados. Tem uma comissão especial que decidiu um valor de ressarcimento, porque o que acontece, a gente desonera as exportações e a União não ressarce os estados. Temos uma perda da Lei Kandir perto de R$ 7 bilhões, se tiver um ressarcimento maior, você pode desonerar alguns segmentos da economia. Eu ouvi o Paulo Guedes, que vai ser o ministro da Fazenda, que vão desonerar a folha de pagamento para gerar em quatro anos 10 milhões de empregos, isso é extraordinário, se eles realmente fizerem isso vão fazer com que a gente tenha mais geração de emprego. Então, estamos olhando as reformas, o Estado [Mato Grosso do Sul] já está bem enxuto, e a gente vai ver os quadros, as pessoas, vamos conversar com as lideranças políticas, temos que compor a base de apoio na Assembleia, mas não vamos barganhar cargos, não fizemos isso no primeiro mandato e não é preciso, agora, vamos atender a base parlamentar com o que? Com investimentos nas bases políticas dos deputados. Agora, cargo tem que ser ocupado por quem tem competência para fazer um bom trabalho, até porque somos todos funcionários públicos, quem paga no nosso salário é o povo, então, vamos trabalhar com uma equipe muito comprometida, competente, para mais quatro anos.
Sucessão municipal
O Marquinhos (Trad), como prefeito da Capital, foi fundamental, vestiu a camisa, eu nem conversei com ele sobre a eleição de 2020, está um pouco distante, mas pode ter certeza que o governador é grato pelo que ele fez por mim, e tem uma coisa na política que a gente precisa ter, e poucos tem, chama-se gratidão e isso é uma coisa que prezo muito, e sou muito grato ao que o Marcos fez na campanha, ele empunhou a bandeira, ele acreditou no projeto, ele pediu ao campo-grandense, ele fez reuniões levando o meu nome, ele dizia não tenho nada contra os outros, mas o governador é o mais preparado, é o que tem melhores condições. Então vou conversar com ele, porque em política a gente conversa, mas tenho gratidão muito forte pelo que ele fez para a minha eleição, estou falando não pelo partido, mas como governador. Quero continuar ajudando a Capital, ela tem problemas que precisam ser resolvidos, vamos na semana que vem, eu e o Marcos, para Brasília, para ver as emendas federais, por mais dinheiro em Campo Grande, para as obras importantes, estruturantes, ajudar destravar projetos habitacionais, de infraestrutura urbana, e vamos estar juntos trabalhando.
Ponte em Porto Murtinho
Primeiro precisamos ter os recursos, o Marum, nosso ministro, disse da questão do DNIT transferindo para a Itaipu. Falei ontem com a nossa bancada toda sobre isso, já tínhamos dinheiro no orçamento, precisamos ter a garantia da Itaipu, do Conselho de Administração, que realmente eles vão executar. Ela vai ser executada porque é fundamental para o Brasil, para o Paraguai. Precisamos de rapidez em ter o projeto, porque sem ter o projeto não tem licitação, o DNIT ficou a cargo disso. A bancada está conduzindo muito bem essa discussão; o Paraguai deu ordem de serviço da obra em Carmelo Peralta, e ela é a Bioceânica, vai ser pra nós a porta de entrada para o Pacífico, isso é fantástico em questão de logística, de competitividade, e estamos atentos a isso.
Acomodação política
A gente tem gratidão por todos que disputaram a eleição, mas quando se disputa uma eleição nem todos se elegem, fizemos uma boa bancada, 17 deputados estaduais, seis deputados federais, o senador Nelsinho Trad, e todos eles com compromissos. Temos bons quadros que disputaram as eleições que tem perfil administrativo, que podem compor o governo, e nós vamos avaliar isso pelo critério da competência, não é critério político. Quem tem competência para trabalhar pelo Mato Grosso do Sul com certeza alguns irão compor parte da nossa equipe nos próximos quatro anos.
Presidência da Assembleia Legislativa
É uma discussão muito interna, não adianta dizer que o governo não interfere, se você faz uma bancada você vai discutir com essa bancada, mas primeiro é uma discussão deles, quem tem um perfil conciliador de ter mais votos, porque ali é voto. Nós compusemos muito bem nesses quatro anos com o próprio presidente atual, o Junior Mochi, não tivemos problema nenhum, tivemos avanços de leis importantes e vamos compor com a próxima Assembleia políticas públicas, o governo tem que tratar das prioridades que a população elencou, e junto com a Assembleia, que tem responsabilidade nisso, fazer com que isso possa acontecer. O Estado já está bem administrativamente, está bem enxuto, temos a menor estrutura administrativa do País, mas temos sempre um olhar atento, sempre tem espaço para economizar um pouco mais, e quando você gasta menos com o governo você gasta mais com as pessoas. Fiquei feliz em ouvir do Bolsonaro que precisamos “menos Brasília e mais Brasil”, precisamos de investimentos, espero que o governo (federal) tenha pressa, rapidez para essas políticas públicas que queremos implementar. Aqui, é a continuidade de um governo, então a população aprovou que esse governo continue; lógico que ela quer que o governo melhore onde não conseguiu atender bem, e esse é o desafio do segundo mandato.
Aquário do Pantanal
Fui contra a construção do Aquário do Pantanal, acho um absurdo, um desperdício de dinheiro, acho que teríamos outras prioridades, creches, escolas, hospitais. Com o dinheiro do Aquário dava para construir três hospitais, com o que eles (o governo anterior) já gastaram - R$ 203 milhões. Mas tem que concluir, não dá para deixar essa obra. Concluímos 211 obras inacabadas, tinha 215 – Hospital do Trauma, estrada do Curê, Universidade Estadual. Faltam quatro obras, três são presídios, dois vamos entregar agora e um vamos entregar ano que vem que já está em construção na Gameleira, e o último é o Aquário do Pantanal. Ali é só um problema jurídico, hora que a Justiça disser que o governador pode concluir sem ser responsabilizado pelo passado (Polícia Federal tá investigando, tem gente presa), eu não quero ser responsabilizado pelo passado, hora que a Justiça decidir, pode concluir com licitação, não tem problema, não estamos pedindo para não licitar como algumas pessoas estão falando, com licitação ou sem licitação, do jeito que quiser, vamos concluir o Aquário, só não posso ser responsabilizado pelo que aconteceu no passado.
Aproveitar o prédio do Aquário para outra finalidade
Se desse já tínhamos feito, aquilo só serve para Aquário. Não quero recriminar o que o André (Puccinelli) fez, mas não era prioridade, não adianta dizer que fez uma pesquisa e a população escolheu o Aquário. Acho que é daquelas coisas que a gente vai fazendo e não consulta, porque se consultasse a população não tenho dúvida que a população ia dizer: não, eu não quero Aquário, quero Hospital, não quero Aquário, quero Creche, quero uma escola mais próxima. Mas como a decisão não foi nossa e deles, só quero segurança jurídica.
Paulo Yafusso - Subsecretaria de Comunicação (Subcom)
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