‘Som da Liberdade’: projeto de música ecoa transformação e esperança no Instituto Penal de Campo Grande

  • Agepen
  • Keila Terezinha Rodrigues de Oliveira
  • 25/junho/2025 5:41 am
  • Agência de Noticias do Governo de Mato Grosso do Sul

Um grupo de vozes e instrumentos vem rompendo barreiras e ressignificando vidas no IPCG (Instituto Penal de Campo Grande). É ali que, há cerca de um ano e meio, nasceu o projeto “Som da Liberdade”, uma iniciativa de musicoterapia que já impactou dezenas de reeducandos e tem se tornado um símbolo de transformação pessoal e ressocialização através da arte.

A idealização e coordenação do projeto é da policial penal e psicóloga Patrícia Gabriela Magalhães, que enxergou na música uma poderosa ferramenta para tratar questões profundas como o autoconhecimento, a disciplina e o enfrentamento das violências – inclusive as cometidas. “A música consegue alcançar lugares onde a fala não chega. Com ela, trabalhamos respeito, organização, autoestima e reflexão. É um processo de reconstrução interna”, destaca.

O grupo conta com uma orquestra de instrumentos e um coral formado por 22 internos – número que pode chegar a 45, caso a unidade receba mais instrumentos musicais por doação. Os ensaios ocorrem semanalmente e vão muito além da simples prática musical. São aulas de técnica vocal, teoria musical, leitura de partituras projetadas em tela, construção de arranjos e, acima de tudo, um mergulho profundo em valores humanos.

Entre as canções que integram o repertório estão clássicos como Imagine” de John Lennon, “Dias Melhores” do Jota Quest e “Girassol” de Priscilla Alcântara e Whindersson Nunes, que promovem não apenas emoção, mas reflexão. Atualmente, o grupo trabalha o arranjo da música “Camila, Camila”, da banda Nenhum de Nós, que aborda a violência doméstica, proporcionando um espaço de debate e empatia entre os participantes.

Atualmente, o grupo é formado por 22 internos.

O projeto ganhou ainda mais corpo com a chegada do interno L.A., com formação e mais de 20 anos de experiência na área musical e que agora atua como maestro no grupo, garantindo mais profissionalismo e disciplina técnica. “No começo, achei que seria apenas para ensinar violão. Mas logo percebi a potência transformadora do projeto. Vi homens se emocionarem, se reconectarem com a fé, com seus próprios sentimentos, com a vontade de viver”, relata.

O reeducando reforça que o grupo é estruturado com método, regras, foco e compromisso. “Aqui, ninguém é analfabeto musicalmente. Todos aprendem teoria, aprendem a escutar, a respeitar o outro e a construir juntos. Isso é liberdade”, afirma o maestro.

Essa transformação é vivida na prática por internos como D. F. C., de 28 anos. Ele conta que reencontrou na música um caminho para curar feridas e compreender os valores que antes renegava. “Aqui dentro, o projeto me ajudou a entender a importância da hierarquia, da obediência; agora entendo de verdade o significado disso tudo”, afirma emocionado.

Outro participante, J. P. A. J., de 40 anos, vê na música uma verdadeira terapia. “A música tem me ajudado a reorganizar minha vida, a refletir antes de agir, a sonhar novamente. Também quero aprender piano lá fora, e talvez unir minhas duas paixões: música e gastronomia”, conta.

O “Som da Liberdade” é um dos diversos projetos de reinserção social desenvolvidos pela Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) em Mato Grosso do Sul e reflete, na prática, o compromisso da instituição em promover uma ressocialização digna e transformadora, por meio de alternativas humanas e eficazes dentro do sistema prisional.

Para o diretor-presidente da Agepen, Rodrigo Rossi Maiorchini, a iniciativa simboliza o poder da atuação de policiais penais que acreditam na mudança, inovam diariamente e constroem pontes para um futuro possível. “Estamos lidando com pessoas que, embora hoje estejam privadas de liberdade, um dia retornarão ao convívio social. Cada vida resgatada por meio da arte, da educação ou do trabalho representa um passo concreto na construção de uma sociedade mais segura e justa para todos”, destaca.

Ações como essa desenvolvidas em unidades do estado são coordenadas pela Diretoria de Assistência Penitenciária da Agepen.

Comunicação Agepen

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