Campo Grande (MS) - Durante palestra ministrada nesta terça-feira (27) no IV Congresso do Centro-Oeste de Doenças Infecciosas, Emergentes, Reemergentes e Negligenciadas (DIERN), o pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Kleber Luz, afirmou que casos recentes de bebês nascendo com microcefalia em regiões do nordeste, como Natal e Recife, podem ter relação com o zika vírus.
Segundo Luz, tem sido observado um aumento no caso de recém-nascidos com microcefalia (condição neurológica em que o tamanho da cabeça é menor do que o normal para a idade) e, coincidência ou não, as mães tiveram algum contato com o vírus durante a gestação. “Até agora há pelo menos sete casos investigados, em que eu mesmo fui até essas mães e conversei com elas pra saber detalhes da gravidez. Fica evidente, do ponto de vista temporal, que há uma relação com o vírus, mas ainda precisamos fazer uma força-tarefa de estudos e exames para comprovar, já que não existe praticamente nenhuma publicação sobre o zika”, assegurou.
De acordo com o infectologista e pesquisador da Fiocruz de Mato Grosso do Sul, Rivaldo Venâncio, é compromisso das pessoas que trabalham na área da saúde alertar quando há algo diferente acontecendo, como é esse caso do aumento repentino de microcefalias. “Tomara que não seja alguma alteração ligada ao vírus, pois isso é muito preocupante, teremos de aguardar os exames e estudos para saber mais”, ponderou.
Dengue, chicungunya e zika vírus
O DIERN contou com uma mesa redonda exclusiva sobre as três doenças – dengue, chicungunya e zika vírus. Todas são transmitidas pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti, e apesar de terem sintomas iniciais parecidos, possuem suas particularidades. “Hoje sabemos que existe somente um sorotipo de zika vírus e chicungunya, por isso as pessoas que pegam uma vez, nunca mais terão a doença, diferente da dengue, que pode voltar”, explica a pesquisadora da Fiocruz do Rio de Janeiro, Denise Valle, que apresentou um verdadeiro relatório sobre o temido mosquito, desde seus hábitos, ciclo de vida, até alternativas de controle.
Já o médico Kleber Luz, além de falar sobre os casos de microcefalia, também explicou didaticamente em sua palestra as diferenças em cada fase das três doenças, além da importância da sensibilidade em saber diagnosticar corretamente um caso. “Como no Brasil nem sempre dispomos de material para exames rápidos, num caso de epidemia a situação se complica ainda mais. E como agora podemos enfrentar uma epidemia de zika ou chikungunya, não basta o médico fazer uma rápida consulta de dois minutos, é preciso muita percepção, examinar minuciosamente os punhos, articulações, verificar possíveis exantemas (manchas), coceiras, sangramentos, tudo o que possa ajudar no diagnóstico”, esclareceu o pesquisador.
O congresso DIERN
O DIERN, que ocorre bienalmente, é uma realização do Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias da UFMS, em parceria com outras instituições de ensino e pesquisa de Mato Grosso do Sul, dentre elas, a Fundect.
O principal objetivo do DIERN é agregar profissionais de saúde que atuam na assistência ao doente, na gestão e vigilância com pesquisadores e alunos de vários cursos de graduação e pós-graduação das instituições de ensino do estado e de outros estados da região. No congresso os principais problemas da saúde na área das doenças infecciosas são levantados, provocando discussões e pesquisas e, a cada edição, respostas são apresentadas e novas questões são formuladas.
Para saber mais informações sobre o evento, realizado no Teatro Glauce Rocha, na UFMS, acesse o link http://www.diern.com.br/.
Texto e Foto: Alice Feldens Carromeu/Mídia Ciência/Fundec