Sutileza e polivalência das mulheres contribuem para a humanização e eficiência do sistema penitenciário de MS

  • Mulheres
  • nrodrigues
  • 08/março/2018 10:42 am
  • Agência de Noticias do Governo de Mato Grosso do Sul

Campo Grande (MS) - Em Mato Grosso do Sul, uma parcela de mulheres dedica parte de suas vidas para que o sistema penitenciário desenvolva um trabalho eficaz em benefício de toda a população. Em meio a um ambiente cercado por muralhas e grades, e na lida com pessoas com histórico de criminalidade e violência, elas mostram a sua força e sensibilidade para manter a segurança e disciplina nas unidades da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen).

Atuando nas áreas de Segurança e Custódia, Assistência e Perícia e Administração e Finanças, as agentes penitenciárias demonstram que a polivalência e a sutileza, características marcantes na personalidade feminina, contribuem para cumprir a complexa missão do sistema prisional, que vai muito além de guardar pessoas condenadas pela Justiça, tendo o difícil dever de ajudar a resgatar vidas até então perdidas para o crime, proporcionando um recomeço diferente e um futuro digno.

Anelize Lázaro de Lima é uma dessas mulheres referência. Trabalhando há 23 anos na Agepen, ela reveza seu dia a dia no papel de mãe e agente penitenciária, e acompanha a evolução da participação feminina no trabalho carcerário. “No passado quando falava segurança penitenciária nem se lembravam das mulheres, hoje estamos em praticamente todos os setores da Agepen”, comenta.

Para Anelize de Lima o grande diferencial do trabalho é a gestão de pessoas, saber valorizar e aproveitar as aptidões individuais.

Há quase cinco anos, a agente penitenciária da área de Segurança e Custódia enfrenta a responsabilidade de dirigir o Estabelecimento Penal Feminino “Carlos Alberto Jonas Giordano”, em Corumbá. Em sua carreira, também já atuou em chefias de equipes, e em chefias de segurança e disciplina até mesmo em presídios masculinos.

Para Anelize, o grande diferencial do trabalho é a gestão de pessoas, saber valorizar e aproveitar as aptidões individuais.  “Cada profissional tem um perfil, assim como acontece com as detentas. A gente nota que cada pessoa pode ser melhor aproveitada conforme suas habilidades, e isso faz toda a diferença para o bom andamento da equipe”, revela. “Acredito que para nós mulheres isso é até mais fácil, pois existe uma compreensão melhor do ser humano”, completa.

A agente penitenciária avalia como sendo a ressocialização o principal e mais importante desafio de quem trabalha no sistema prisional. “Sei que existe um grande descrédito quanto a isso e que posso até ser motivos de risada por acreditar na ressocialização, mas se conseguirmos 1% ou 2% já é válido”, afirma. “Eu já presenciei histórias de transformação que pareciam impossíveis”, destaca, classificando a religião como um dos principais meios para isso.

Na sua opinião, a maior dificuldade da profissão, além dos riscos inerentes, está em administrar a vida pessoal e profissional, devido às muitas horas de dedicação ao trabalho, longe de casa. “Ficamos muito distante da família. Na criação dos filhos, por exemplo, se não tivermos alguém que nos ajude, fica muito difícil essa caminhada. Eu tive apoio da minha mãe, que acabou sendo a principal responsável pela educação deles, é muito complicado”, comenta.

De estagiária a membro de conselho superior

A agente penitenciária da área de Assistência e Perícia, Gisela Nazareth Nunes, ingressou no sistema penitenciário na condição de estagiária, há quase 25 anos. Se tornou secretária, assistente, até ser convidada para ser a primeira diretora do presídio feminino de Corumbá.

Em 1998, passou no concurso para carreira penitenciária, para atuar como assistente social, acompanhando o tratamento penal dos detentos. Ao longo da sua experiência profissional, cheia de ideias e vontade de fazer a diferença, ela é responsável por vários projetos de reinserção social, e serve de referência para colegas que estão ingressando na profissão.

"Humanizar os presídios não implica fragilizá-los ou incentivar a impunidade. Significa tornar a pena menos aflitiva, dar expectativa de reintegração social a quem cumpre", defende. "Lidar com pessoas reclusas é ser elemento transformador".

Do cotidiano tenso comum ao ambiente prisional, a servidora classifica o equilíbrio emocional como a principal arma. "Se reunirmos competência, dedicação, serenidade, paciência, amor e muita fé em Deus, vencemos as pressões do dia a dia", declara.

No ano passado, Gisela foi eleita como representante da área de Assistência e Perícia no Conselho de Administração Penitenciária (CAP), colegiado superior de deliberação coletiva da Agepen, que tem por finalidade o acompanhamento do cumprimento dos mandamentos institucionais das atividades vinculadas à carreira de Segurança Penitenciária.

Em pleno mandato, ela se desloca regularmente de Corumbá, onde trabalha, até a Capital para contribuir, se pronunciar e propor normas relativas à utilização de novas técnicas e métodos de aperfeiçoamento na Agência Penitenciária.

Apesar de suas muitas realizações profissionais,  a agente afirma que a participação no Conselho foi um ideal conquistado, no sentido de colaborar com a melhoria do sistema prisional e, principalmente, nos processos relacionados aos servidores penitenciários.

Cuidando de quem cuida

A agente penitenciária da área de Administração e Finanças, Maria Roseneusa Santos Oliveira, também acompanhou a evolução da carreira penitenciária e dos profissionais da área. Há 25 anos na profissão, ela é assistente social e atua como chefe do Núcleo de Atendimento Psicossocial  ao Servidor.

Há 25 anos na profissão, Maria Oliveira, é assistente social e atua como chefe do Núcleo de Atendimento Psicossocial  ao Servidor.

Para Roseneusa, cuidar dos profissionais que custodiam as pessoas em privação de liberdade é uma experiência muito rica. “Na minha carreira, eu pude acompanhar de perto a evolução do sistema penitenciário; atualmente, os servidores têm um olhar diferenciado e já não se sentem mais como um carcereiro, e sim como um agente ressocializador, independente da área que atua; tenho testemunhado isso com muito prazer”, destaca Roseneusa e justifica que a busca de conhecimento e o crescimento profissional foram os provocadores dessa mudança.

Ela conta, ainda, que as vivências profissionais que mais ficaram marcadas na sua trajetória foram as internações psiquiátricas de servidores em surtos, decorrente de acidentes de trabalho. “São experiências bem dolorosas, onde tivemos que intervir pessoalmente para evitar chamar autoridades para internações compulsórias mais agressivas”, lembra a servidora.

Com dois filhos, Roseneusa afirma que ser mulher já é um desafio de ter que agregar multifunções (mãe, esposa, dona de casa, profissional), “por isso trabalhar a humanidade e espiritualidade é o caminho para que todas essas funções sejam desempenhadas de forma satisfatória”.

“No sistema penitenciário temos um desafio ainda maior, porque o pano de fundo é a violência de todas as formas, então se não trabalharmos esses aspectos com muita atenção e prioridade, todas as outras coisas vão nos marcar de forma muito negativa e aí colocamos a saúde em risco, os relacionamentos familiares e interpessoais, que são muito importantes, em segundo plano”, complementa a servidora incentivando a igualdade de gênero no trabalho. “Precisamos potencializar as características autenticamente femininas, para que a fusão das diferenças de gênero realmente seja boa”, finaliza.

Keila Oliveira e Tatyane Santinoni - Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen)

Fotos: Douglas Assad e Tatyane Santinoni

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